janeiro 05, 2009

Tocar

Ary Dias em vôo solitário

Percussionista do grupo A Cor do Som detona “Tocar” seu primeiro disco solo





Gravado em Fort Lauderdale, nos Estados Unidos, com produção requintada de ninguém menos que Jim Gaines, produtor do Santana. O disco com doze faixas assinadas por Ary, conta com os craques Jorginho Gomes (bateria), Marcos Nimricheter (teclados e acordeom), Guilherme Maia (baixo) e Rodrigo Garcia (violão), além do toque para lá de especial do Miami Sound Machine (sopros) e dos vocais das cubanas Olgi Chirino e Angie Chirino, que acompanhavam Gloria Stefan.

Baiano de Salvador, Ary Dias, baterista antes de tudo, tem formação clássica, cursou a Universidade Federal da Bahia e integrou, durante quatro anos, a Orquestra Sinfônica da Bahia. Habilitado em música contemporânea, participou do Grupo de Música Contemporânea da UFBA, ao lado dos músicos e compositores Ernest Widmer, Lindenberg Cardoso, Piero Bastianelli e Agnaldo Ribeiro. Indicado, por Moraes Moreira, foi para o Rio de Janeiro integrar o grupo A Cor do Som que já contava com Dadi, Mu, Armandinho e Gustavo Schroeter. A banda teve reconhecido sucesso nacional e internacional, com dez discos gravados e diversos prêmios conquistados – entre os quais, o Prêmio Sharp 1997 de melhor grupo de música popular e o Prêmio Tim 2006 de melhor grupo de canção popular. Ao longo da carreira, Ary integrou as bandas de Gilberto Gil, Jorge Benjor e Rita Lee, além de ter gravado com Caetano Veloso, Chico Buarque, Erasmo Carlos, Luis Melodia, Carlinhos Brown e Tools Thilemans, entre outros. Como se não bastasse: Ary Dias é professor de percussão de música popular no Centro Musical Antonio Adolfo, a mais conceituada escola de música do Rio de Janeiro, e do Centro de Artes do Terreirão, um projeto cultural sem fins lucrativos. Com exclusividade, o músico e compositor concedeu entrevista contando algumas coisas do disco novo e da carreira.



Reportagem e fotos por Elias Nogueira

- Depois de anos de carreira, você lança seu primeiro disco solo?
- Eu sempre gostei de escrever e no início da minha carreira, além de músicos, convivi com muitos amigos compositores e poetas, o que alimentou muito esse hábito. Musicar meus textos aconteceu mais lentamente e se deu ao longo desses anos. Na verdade, minha primeira intenção era ter minhas músicas gravadas por alguns intérpretes. Como isso é uma tarefa difícil, a primeira oportunidade que surgiu de gravar um CD solo, resolvi registrá-las, sem maiores pretensões, o que só ocorreu em fins dos anos 90, e só agora consegui lançá-lo, independente!

- A escolha de gravar nos Estados Unidos foi sua? Como se deu?
- Não, a escolha não foi minha, foi um grande presente. Estava na hora certa, no lugar e com as pessoas certas. Se eu pudesse escolher, gravaria em casa, no Recreio dos Bandeirantes. Estava terminando uma grande e maravilhosa temporada com o Jorge Benjor – W Brasil - , quando recebi um convite do Evandro Mesquita, para gravar um CD com a Blitz, nos EUA. Aí, adorei a idéia: íamos gravar no Fort Lauderdale, Flórida. Lá fui eu, tudo de bom. Na bagagem levei uma fita-demo com algumas músicas, como fazia sempre. No final da gravação, o produtor musical Jim Gaines e o produtor executivo Henrique Garção se interessaram pelo meu trabalho e perguntaram se eu não queria fazer um CD. Mostrei a fita que tinha levado comigo e imediatamente fui convidado para voltar. Tive um mês para preparar essa volta. Mas foi maravilhoso, realmente um grande presente.


- É a primeira vez que você trabalha com Jim Gaines?
- Não, como disse anteriormente, trabalhamos juntos no CD da Blitz. Espero que tenhamos outras oportunidades, criamos uma amizade musical muito forte. Sendo produtor do Carlos Santana, sua sensibilidade para o lado percussivo da música é muito aguçado, embora esse meu disco dê mais ênfase ao lado compositor. Foi muito prazeroso ver a competência e a simplicidade de um produtor respeitado como ele, me deixando à vontade e confortável para criar.

- Jorginho Gomes, Marcos Nimricheter, Guilherme Maia... Você reuniu uma turma da pesada, em termos de som. Como foi? Eles viajaram com você para fora?
- Consegui mesmo reunir uma galera da pesada. Para mim são os melhores do mundo, falar de cada um levaria dias, são meus amigos, irmãos e parceiros. Foram todos comigo, inclusive o violonista Rodrigo Garcia, com todos os direitos e respeito que um músico merece, e que eu sei muito bem. Tudo isso partiu do sonho do empresário e produtor Henrique Garção, que apaixonado por música, resolveu investir em músicos que admirava. Alugou um estúdio em Fort Lauderdale, contratou o melhor produtor musical e nos levou. Deu carta branca para que eu convidasse os músicos que quisesse e nos acomodou numa bela casa e realizou o meu sonho de registrar minhas composições. Dei sorte de todos estarem disponíveis naquele período, tínhamos apenas um mês para matar tudo e o time tinha que ser mesmo de primeira. Basicamente, passávamos o dia trancado no estúdio e a noite, em casa fazendo os arranjos do dia seguinte. Mas tivemos momentos muito divertidos também, no qual um deles culminou com a composição da música “A Goma”, feita numa noite de volta do estúdio. Lá contamos com a participação maravilhosa, sugerida pelo Jim, do Miami Sound Machine no sopro e das cubanas Olgi e Angie Chirino, nos vocais, que se encaixaram muito bem no espírito da minha música.

- Teve três faixas que fora finalizadas no Brasil.
- O tempo lá fora foi muito curto para a gravação do CD: um mês. Faltavam poucos dias pra terminarmos as gravações e ainda estava faltando finalizar algumas vozes. Jim Gaines então sugeriu fecharmos no Brasil, o que era inclusive uma oportunidade para ele conhecer a terra. Foi ótimo. Aproveitei para convidar minhas amigas, Mariana Baltar e Anallu Guerra para participarem. Deu tudo certo, daqui, Jim voltou para seu estúdio em Menphis, para mixagem e masterização.


- Você Já tocou com vários nomes consagrados, além de fazer parte do renomado grupo A Cor do Som. Gostaria que comentasse?
- Foi e será um privilégio, uma benção, ter tocado com Moraes Moreira, Armandinho e o Trio Dodô e Osmar, Gerônimo, Luis Caldas, Gilberto Gil, Toni Platão, Luis Melodia, Jorge Benjor, Rita Lee, na Orquestra Sinfônica da UFBa, em canjas com todas as bandas de amigos, tudo é gratificante, só soma. A Cor do Som é minha referência maior, foi quem me projetou, são meus grandes amigos/irmãos. Estamos sempre juntos, tocando ou participando dos trabalhos um dos outros.

- A Cor do Som vai cair na estrada?
- A “A Cor do Som” nunca saiu da estrada. Estamos muito tranqüilos. Nosso pit stop às vezes é longo, mas consciente. Estamos sempre fazendo alguma coisa. Atualmente estamos produzindo muito individualmente, o que sempre é revertido para o coletivo. Estamos cada vez mais amigos e mais maduros, e retomando projetos para o próximo ano, talvez este ano ainda, mas tudo à nossa maneira e no tempo certo.

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