junho 29, 2007

Oswaldo Montenegro


Oswaldo Montenegro – A partir de agora

Cantor e compositor lança disco de inéditas com participações de Alceu Valença e Zé Ramalho e faz releitura de Chico Buarque

Depois do sucesso do disco - Oswaldo Montenegro 25 Anos, que, ultrapassou a marca de 100.000 cópias vendidas, nesses tempos de crise, com cd e dvd de ouro, confirmando mais uma vez o aval de Montenegro como compositor, onde demonstra que sua criatividade não tem fim, lança - A partir de agora - o trigésimo quinto disco de sua carreira. Um disco cheio de ecletismo onde o compositor, cantor e instrumentista, mostra seus diferentes gostos musicais, misturando faixas com pegadas de rock e mpb, entre baladas com letras fortes e direcionadas no assunto que abrange. Com arranjos fortes, mas sem excessos, o disco apresenta músicas inéditas, parcerias vocais como com Alceu Valença, e parcerias inusitadas e brilhantes como "Do muito e do pouco", com Zé Ramalho:
“O Zé Ramalho havia participado de um outro disco que lancei (Leo e Bia) no Canecão no Rio de Janeiro e ele fez uma participação cantando. Dentro do camarim após o show, conversando, ele me propôs fazermos algo, já que somos amigos de longa data e nunca havíamos feito nada juntos. Foi quando ele me deu um livro de poemas dele e acabei musicando um deles. Resolvemos gravar. Esta foi à primeira vez que fizemos um trabalho juntos. Quanto ao Alceu, eu fiz uma música chamada (Nem todo Alceu, é Valença) é uma homenagem. Ele foi para o estúdio e acabou gravando comigo. Foi uma aventura. Gravar com ele é sempre uma aventura”, Comenta Oswaldo.

Sempre bem acompanhado em suas empreitadas musicais, Montenegro não foi diferente em - A partir de agora. Suas virtudes poéticas juntam-se aos renomados instrumentistas Alexandre Meu Rei, Caíque Vandera e Pedro Mamede somam seus instrumentos e sua tecnologia à flauta de Madalena Salles. Tudo isso somado, podemos entender o porque de Oswaldo Montenegro mesmo sem se importar com a grande mídia, lota seus shows por onde passa.
“É muito difícil de explicar. Tenho muita gratidão por isso. Mas eu não penso muito nisso e nem analiso. No meu trabalho ele é feito de uma coisa muito intuitiva. Eu faço questão de preservar o seguinte: Eu gravo e faço shows com as músicas que componho sobre o que aconteceu. Depois a própria arte é que toma o rumo próprio”, fala.

A partir de agora - demorou a ser finalizado, mas foi recompensado pelo bom gosto. Montenegro fez uma releitura de um clássico da mpb e ainda de sobra, colocou uma faixa bônus com a trilha sonora de sua autoria para o filme (A Incrível história de Mauro Shampoo).
“Fiquei dois anos gravando este disco. Nesse meio-tempo, eu havia enjoado de mim. Como se tivesse que colocar alguma coisa a mais no disco. Acabei recorrendo ao Chico Buarque que um compositor que eu gosto muito. Escolhi a música (Flor da idade) e mandei bala!”, esclarece completando: “Tem um bônus que conta à história de Mauro Shampoo, que é um jogador de futebol do Íbis do Piauí, o pior time do mundo. O Mauro Shampoo, que é também cabeleireiro, jogou vinte anos no clube fez apenas um gol. Como eu fiz a trilha sonora do filme, acabei colocando essa faixa também”. A realidade é que "A partir de agora", é uma obra impecável.

Texto publicado originalmente no jornal International Magazine edição 127 – Novembro de 2006

junho 23, 2007

Tianastácia

Tianastácia e a sétima laranja

Tianastácia, Maurinho Nastácia (voz e violão), Antônio Júlio Nastácia (guitarra), Beto Nastácia (baixo), Glauco Nastácia (bateria) e Podé Nastácia (voz e violão) são como uma máquina que funciona no tempo certo. Com mais de dez anos de carreira, mais experientes e conseqüentemente mais maduros e, por isso mais precisos como um relógio genuinamente suíço, o grupo lança o seu sétimo cd “Orange 7”.
Título inspirado no clássico filme e livro “Laranja Mecânica” (“Clockwork Orange”). Em conversa exclusiva, Maurinho Nastácia (voz e violão), fala sobre o disco, composições e outras coisas interessantes.


Gostaria que vocês falassem do processo de criação? Vocês acham que se reunirem em um sítio e se manterem excluso influencia nas composições? Pergunto isso, porque existem vários compositores que fazem ao contrário.
O processo de criação do Tianastácia é quase sempre igual. A gente procura um sítio, ou algum lugar afastado da cidade para poder começar os trabalhos. No Orange 7, fomos para uma fazenda em Igaratinga, perto de Belo Horizonte (MG), ficamos duas semanas. A banda, o produtor, Marcelo Sussekind, e algumas pessoas da equipe da banda. O repertório já estava mais ou menos resolvido pelo guitarrista, Antônio Julio e por Marcelo Sussekind. Durante essas duas semanas, fizemos os arranjos e acabamos compondo três ou quatro, lá mesmo. Fomos para o estúdio Máquina, que é do Skank, e gravamos em duas semanas. Mixamos no estúdio Casa do Mato, no Rio de Janeiro e masterizamos na Classic Máster, também no Rio de Janeiro, com Carlos Freitas. Com o disco pronto, fomos para uma outra fazenda, em Itaguara, para ensaiar as músicas, com a presença também do produtor.

É a primeira vez que vocês incluíram teclados em disco? Qual o diferencial? Vocês utilizarão em shows?
Não. Já utilizamos teclados antes em discos anteriores. O diferencial deste trabalho é que o teclado entrou de uma forma mais forte dentro dos arranjos, apesar de em apenas metade do disco. É a primeira vez que assumimos os teclados em show. Convidamos um músico para participar não só dos teclados como também guitarras, violões e vozes.

De que forma os membros da banda contribuem para o disco, além de tocarem seus instrumentos?
Todos os componentes da banda compõem. Uns mais, outros menos. Mas nos arranjos e idéias, todos estão muito presentes.

Laranja Mecânica é um livro e filme antigo. De que forma o descobriram?
Essa história do Laranja Mecânica apareceu depois do disco pronto. Na hora de pensar no figurino, no cenário, etc, essa idéia apareceu junto com as cores que o projeto estava seguindo. Laranja preto e branco. Foi uma conseqüência. Todos da banda já tinham assistido ao filme, então foi uma coisa natural.

Sétimo disco de carreira, é pra lá de uma confirmação de um grupo que sabe muito bem o que quer. O Que mudou nesses anos de estrada? O que foi bom e o que foi ruim nisso tudo?
Acho que estamos numa fase em que sabemos muito bem o que queremos com nosso trabalho. Essa formação já está junta a quase dez anos. Só de olhar um para o outro, já sabemos o que vai acontecer. Por isso acho que estamos muitos bem. O que de ruim aconteceu foram às barreiras que temos que transpor, que a própria vida nos mostra, e às vezes, são escolhas difíceis, mas fazem parte.

Esse disco é independente? Até que ponto isso é bom?
Esse disco é completamente independente e está sendo todo planejado por nós, e por vários parceiros que fomos conquistando durante nossas vidas. Estamos muito satisfeitos com os resultados que estamos conseguindo com nossa organização fora do palco. Tudo muito certo. Não estamos fechados para nenhuma gravadora se elas vierem a somar, realmente, no nosso trabalho.

Nesses mais de 10 anos de estrada o que foi mais gratificante?
O mais legal de tudo é que o Tianastácia, com 11 anos de estrada. Estamos muito felizes e com muita vontade de trabalhar. Nunca tivemos nenhum tropeço tão forte a ponto de nos fazer desistir dos nossos sonhos. Vivemos da banda e temos muitos fãs que nos fazem acreditar que estamos no caminho certo.

Daqui pra frente o público pode esperar o que do Tianastácia?
Muita vontade, muita força para continuar nossa caminhada e muita música boa para continuarmos cantando junto.

Publicado originalmente em junho de 2007 no jornal International Magazine na edição 132

Foto de divulgação por: Kelsen Fernandes

junho 20, 2007

Bezerra da Silva


Com licença! O Sr. Bezerra da Silva!

Veio de Pernambuco para o Rio de Janeiro aos 15 anos de idade, escondido em um navio, e no Rio ficou trabalhando na construção civil. Tocava percussão desde criança e logo entrou em um bloco carnavalesco, onde um dos componentes o levou para a Rádio Clube do Brasil, em 1950. Daí então tudo mudou, passou a atuar como: Compositor, instrumentista e cantor, gravando seu primeiro compacto. Em 1969 lançou o primeiro LP seis anos depois sem sucesso. Quando lançou a série Partido Alto Nota 10 começou a conhecer a mídia. Com um repertório repleto de autores anônimos, assim Bezerra notabilizou-se com estilo próprio. Muito antes de virar moda ele transmitia do outro lado da trincheira da guerra urbana não declarada: "Malandragem Dá um Tempo", "Seqüestraram Minha Sogra", "Defunto Cagüete", "Bicho Feroz", "Overdose de Cocada", "Malandro Não Vacila", "Meu Pirão Primeiro", "Lugar Macabro", "Piranha", "Pai Véio 171", "Candidato Caô Caô".
Em uma conversa franca com Elias Nogueira, Bezerra da Silva conta como apareceu no Rio clandestinamente, passou fome, foi preso várias vezes e ainda conta o segredo do carinho que os mais jovens tem com ele e de seu novo disco “Meu bom juiz”.


É verdade ou é lenda, que você veio de Pernambuco para o Rio de Janeiro escondido em um navio?
É verdade. Recife é uma região do Nordeste politicamente sacrificada. A minha família é do interior de Pernambuco chamado Nazaré. E a verdade é que se eu ficasse em Recife eu ia morrer de fome, então era uma época que não havia mais condição de ficar. O porto lá de Recife é aberto, eu cheguei eram 18 horas mais ou menos. Tinha um navio cargueiro que transportava açúcar e álcool para Santos. Entrei para visitar e fiquei lá em baixo, tinha um fundo duplo. Ele partiu e eu vim embora. Quando fui descoberto no quarto dia de viagem (foram seis no total), me alimentava de açúcar. Depois o comandante me encontrou e ainda brincou me perguntando: “E se eu te jogar na água?” Respondi que ele ia acabar comigo e estaria tudo certo. Foi quando ele me deu comida e prossegui viagem. Chegando ao Rio, fui procurar meu pai, tinha 15 anos de idade, fui um filho abandonado pela mãe ainda no ventre. Meu pai havia abandonado minha mãe, aquela história de mãe! O certo é que eu nasci em Pernambuco, Recife, na rua Manoel de Carvalho, 244 atrás do campo do Náutico e fui registrado no Méier no Rio de Janeiro. Eu nem sabia onde era este tal de Méier. No entanto a minha mãe diz que eu nasci em 9 de março de 1937 e meu pai colocou 23 de fevereiro de 1927.

E qual é a data certa?
Eu não sei, quem sabe é minha mãe e também não me comovi com nada.
Continuando, saí para procurar meu pai e encontrei uma semana depois. Eu tinha fome, fui trabalhar na Av Presidente Vargas num prédio de 22 andares para fazer pintura. Não sei se você sabe, eu sou pintor de parede e tenho um curso que fiz na escola de aprendiz de marinheiro. Subi naquele andaime de 22 andares, quando o encarregado me falou que só tinha este trabalho para eu fazer. “Se você quiser?" Falou o encarregado? Eu respondi que não tinha dinheiro e nem onde dormir. Ele respondeu que daria comida, dormida e no sábado você paga. Eu peguei o trabalho, subi naqueles 22 andares. É o prédio que tem uma rádio. Depois, fui transferido para Copacabana no Lido para trabalhar em outra obra. Dali fui para a Pça. Serzedelo Corrêa com Siqueira Campos, no edifício Timbira. Ali eu arranjei uma mulher. E esta mulher me contou que havia arrumado um barraquinho e que poderíamos morar e que tinha uma subidinha. Quando vi era o morro do Cantagalo, na rua Teixeira de Melo. E neste morro eu fiquei 20 anos. O tempo passou e eu entrando em cana quase todo dia, com o negocio de averiguação, com fome, trabalhando em obra, sempre passando aquele sufoco. Então, tinha uma Escola de Samba, e um rapaz chamado Alcides Fernandes, que me perguntou se eu queria fazer um programa na Rádio Clube para tocar tamborim, “Te dou cem merreis”. E eu fui, me chamaram para gravar e eu comecei gravando, foi onde tudo aconteceu. Eu só gravava Carnaval, depois acabava e eu voltava para trabalhar na construção civil. Isso durou mais ou menos uns dez anos. Quando chegaram os anos 60, gravei com Jackson do Pandeiro, porque meu gênero é coco.


Era sobre isso que eu ia lhe perguntar, sobre uma participação em disco junto com Jackson do Pandeiro?
Não foi participação, eu sei fazer coco, que é um estilo nordestino, sei tocar zabumba direitinho. Andei gravando umas músicas com Jackson e já estava um pouco conhecido no meio. Tinha um ponto onde se reuniam artistas que era o Café Nice. É o edifício que tem a Caixa Econômica, no centro, onde tem até uma escada rolante, ali era o Café Nice. Mas não dava pra agente chegar, porque ali só pintava cantores, com Cetim e Gabardine, você chegava com uma camisinha ali, não dava. Isso tudo acontecendo, e eu não parava de pintar parede. Estava tocando em Copacabana. Não sei se você sabe, eu toco três surdos de uma vez só. Ai o diretor da Copacabana (gravadora) viu e me ofereceu emprego, isso era 1967 quando fui trabalhar em São Paulo na Orquestra da Copacabana Discos, meu filho (Tuca) tinha um ano de idade. Fiquei contente, ao menos eu morava num barraco no parque proletário da Gávea, que hoje é o Planetário, ali era uma favela. Mas o dinheiro que ganhava não dava, era muito pouco. Voltei para outros bicos, estava gravando Carnaval. Aquilo foi evoluindo, ai apareceu o falecido Astor, grande maestro carioca. Ele era uma pessoa temperamental, só sabia gritando. Então um dia ele escreveu um arranjo e eu estava tocando surdo. Hoje eu sei o que é, mas naquele tempo eu não sabia, tinha lá umas pausas de colcheia e eu não sabia fazer. Tentei umas três vezes, o estúdio repleto de colegas, quando ele disse: “Você já tem idade suficiente para tomar vergonha, deixar de beber cachaça, ir para escola aprender música, porque você está prejudicando os outros”. Tinha que olhar pro papel, não tinha conversa. Ele voltou com o pessoal da orquestra e disse: “Deixa que eu mesmo faço”, o pessoal ficou chateado, dizendo que não precisava ter feito isso. Sai dali, quando o Marinho começou a me dar aula. Estudo música até hoje. Passados dois anos encontrei o maestro. Quando ele falou “Fiz aquilo com você porque já sabia que você ia estudar”. Foi até bom porque se eu continua-se do jeito que estava ia ficar por aquilo mesmo, não ia dar em nada. Quando eu já estava no terceiro ano já em 1977, abriu uma vaga na Sinfônica da Globo. Estavam precisando de um percussionista que soubesse ler música. Eu já estava no terceiro ano de violão, para tocar tamborim e reco-reco?! O emprego foi meu. Ai clareou! Passei a ter plano médico e minha maior preocupação era não passar fome. Trabalhei oito anos, saí bem de lá, na hora que pedi para sair não queriam deixar. Tive que assinar um documento para uma possibilidade de readmissão. Quando virei a pagina, não dava para conciliar as duas coisas. Fiz um bom ambiente, era na gestão do Boni, até hoje quando chego lá, sou bem recebido por todos. Fiz como Xavier, dois discos de coco pela Tapecar nos anos 70 “O rei do coco - Bezerra da Silva” e “Bezerra da Silva - o rei do coco”. Não deu certo, assim como em 1969 ”Mana, Cadê meu boi”, que não havia dado em nada. Quando chegou em 1977 arrumei emprego na Globo e fiz o primeiro disco de samba, “Partido alto nota dez volume 1, Bezerra da Silva e seus convidados” de 1978 e que eles acreditaram no nome. No segundo em 1979 “Pega eu que sou ladrão” que é o volume 2, foi quando o Brasil descobriu a marca que é Bezzera da Silva que é uma coisa inédita. Vendi mais de 400 mil cópias tocando apenas no programa do Adelson (Alves) da Rádio Globo. Daí em diante começou a primeira briga. Vendi mais 400 mil cópias e eles acabaram me pagando 44 mil. Botei a boca no trombone. Fiz mais um disco para cumprir contrato que era eu de um lado e o Genaro do outro, e saí. Assinei com a RCA, fiquei quatorze anos, deixei quatorze discos gravados Já era sucesso quando descobri que estava sendo assaltado e saí da gravadora, aliás, não teve nenhuma gravadora que me mandou embora. Fui para RGE, gravei dois discos. Tem uma música que gravei em 1995 chama-se “Parabéns pra você do Brasil” e ai colocaram “Parabéns pra você meu Brasil”, neste novo CD. Você ver como é que são as coisas, não sei se vocês já ouviram, esta musica não foi feita para o Lula. Falar de ladrão em musica é motivo para todas as épocas. Os autores (Edson Show e Adelino da Chatuba), já desapareceram. Saí da RGE e fui para R & Blues, voltei para CID e fiz primeiro disco ao vivo em 1999 e saí. Em 2000, entrei para Atração em São Paulo e gravei dois discos. Saí da Atração, que é outra gravadora muquirana. O Homem não gostou e se não gostou come menos! Estava fazendo um show no SESC e eles mandaram a diretoria da gravadora. Acontece que eles não cumpriram com que foi prometido para trabalhar, queriam promover o disco apenas com meu nome. Ai eu parei o show no meio, a casa estava lotada, eu comecei a falar, “Esta gravadora (Atração) é uma muquirana, prometeram um negocio e fizeram outro. Porque se vocês tivessem agindo certo comigo eu não falaria isto, e falei e tá falado!”. Ficaram me levando em Banho Maria e a gravadora não estava querendo me dar rescisão de contrato. Eles não faziam nada mesmo! Isso foi em 2001. Ficou neste embate sem me liberar. Vim para CID, fiz este disco. Ainda tem aquela história dos “Três malandros”, que foi idéia do Esdras que é diretor artístico, mas também não foi legal, eles tinham outra mentalidade. Eu já saí da CID umas três vezes e voltei. O pessoal diz que minha briga com a CID é igual de marido e mulher, só teve brigas comerciais, nada de grave. Agora estou lá novamente. Na Universal eu gravei apenas um disco “Eu to de pé” em 1998.

O disco que saiu pela Universal foi bem?
Não. O disco é bom, mas o todo poderoso de lá, ficou meio nervoso, porque queria que eu fosse fazer a “Casa de Samba”. Tem até o Rildo (Hora) que é meu camarada, sempre me chamava. Era pra fazer um disco: Eu, Rildo, Baby Consuelo e a Rita Lee, se não estiver enganado, era sempre uma dupla. Eu olhei e falei para um rapaz que era o diretor na época: “Problema é o seguinte: Acho que já está na hora de eu ter um certo respeito. Você vem me chamar para fazer um pau de sebo?”. Até porque o nome disso era “Pau de sebo” que eram “Rildo Hora e Altamiro Carrilho” lançado pela Copacabana. Ele veio cheio de história dizendo que todos estavam empolgados. Quer saber? Eu tenho uma coisa comigo, eu não gosto de banca. O sujeito que vier de banca comigo eu não aceito. A humildade entra em qualquer lugar e tem saber ser homem em qualquer ocasião. Eu falei o seguinte: “Você me respeite, isso é para iniciante, eu tenho mais de vinte discos gravados e você me chama pra fazer um pau de sebo! Me dá mil reais e depois o que der, é dividido com vinte e oito cantores”. Quanto é que vai para cada um? Todo mundo foi, eu não fui. Sou nordestino, não sou mais homem que ninguém, mas sou jagunço, estou acostumado a passar fome, nunca gostei de empolgação, sou humilde. Ai complicou, não teve nenhum ressentimento, o Rildo me chama até hoje. Contratou o Zeca (Pagodinho), bati palmas para ele e não tenho rancor. Ficou engraçado porque fui para Universal que havia comprado a Polygram. O que se entendia, era que a Universal é quem ia mandar, não sei o que eles arrumaram (os capitalistas), que a Polygram ficou mandando. Foi quando começaram a fazer uma limpa. Foi uma porção de gente mandada embora, eu fui o primeiro da lista. Até o presidente da Universal foi demitido.

O que aconteceu depois?
Existem colegas, não são todos, mas a maioria fica calado, as gravadoras fazem o que querem. O que aconteceu? Eu meti todas elas na justiça. BMG, Universal, Atração e RGE. Esta última eu já ganhei em todas as instâncias e para pagar está um rolo danado. Não adianta, não vem com conversa fiada comigo!
Eu não tenho nada com meus colegas, vivo sozinho. Os órgãos de classe que temos não funcionam. Ordem dos Músicos, Sindicato dos Compositores e Sindicato dos Músicos, tudo isso são fachadas. As gravadoras fazem o que bem querem, não cumprem tabelas e ninguém nunca falou nada. Eu nunca vi tanta covardia e tanto medo! Não sei do que? Eles sonegam mesmo! Nós não sabemos quanto vende e quanto recebe e fica por isso mesmo. Começaram a dizer que eu era um cangaceiro. Eu sempre briguei pelos meus direitos e não quero nem saber. Tem gente que fala que: Eu colocando na justiça vou ficar queimado no meio. E eu sempre respondo “Está me achando com cara de pau de fogueira em festa de São João?” Me dá o que é meu! É isso que eu quero! Gravadora pra mim nunca faltou! Dizem que está uma escassez, pra mim sempre tem! Você grava, recebe da gravadora e não tem direto nem de olhar a nota fiscal!
Você não sabe quanto tem, é a palavra deles! Está certo isso? Eles dizem que o Bezerra é mal educado, ignorante e tudo mais! Acontece que eu pago meus impostos e o que é meu, eu quero! Como o Sr. Gurzoni falou, que eu não sou somente artista, sou um vendedor de discos. Sem exagero, todos discos que já lancei, devo ter de 40 a 50 milhões de discos vendidos. Tem aquele slogan que diz “Crioulo com muito dinheiro corre de casa”, eu não aceito isso, mas tem muitos colegas que aceitam e eu grito mesmo! Fico sendo tachado de favelado, criador de caso, irreverente... Mas não sou ladrão! Nunca tive medo de trabalhar. Tudo que falo eu assumo!


Quantos filhos o senhor tem?
Eram seis, porque um morreu. Eram cinco homens e uma menina. Tenho dois netos americanos (EUA) que eu não sei o que eles falam, moram em Boston. Meus filhos todos são músicos.

Como foi seu encontro com o Zé Ramalho?
Toquei com Zé Ramalho. Gosto muito do Zé e ele gosta muito de mim. Eu toco zabumba, mas o gênero é coco que é um estilo musical que vem do norte e muitos falam que é forró, este negocio é até pejorativo, não tem nada com a teoria. Tem o baião, mas tem o coco que é a base e até hoje ninguém gravou. A divisão do zabumba é diferente e muito difícil quando se toca coco. Aprendi a tocar o zabumba desde os nove anos de idade. Trabalhei muito com o Zé Ramalho, eu era músico dele, toquei em vários discos e fiz shows, isso nos anos 70. O Zé tinha lá um... Sabe como é que é malandro é malandro e não cagueta! O Zé gravou no seu disco novo “Vou apertar, mas não vou acender agora”.

Esta música já foi muita regravada?
Elias, eu já perdi a conta! Regravou o Barão Vermelho, Zé Ramalho, Planet Hemp... . Teve algumas que não lembro agora.

O compositor ganhou alguma coisa com esta música?
Ganhou! Uma marmita! Que vez por outra, quando ele vem me visitar e eu dou um prato de comida para ele, que nem dinheiro de passagem tem! Isso me revolta! Ele era para está numa situação diferente!

Quais os instrumentos o senhor toca?
De percussão, todos, desde tambor de Macumba até berimbau. Estudo trompete, violão e cavaco. Estudei oito anos de violão com o método clássico, aprendi ler música e escrever.

Você chega a usar sua habilidade instrumental em seus discos?
Eu mesmo toco, eu mesmo gravo.

Quem faz a seleção de repertório?
Eu mesmo, porque se entregasse nas mãos dos outros eu já tinha me acabado há muito tempo.

Qual o critério que o senhor usa para fazer a seleção?
Faço muita pesquisa. O Compositor é a base, eles são uns privilegiados, como Nélson Cavaquinho e Adoniran Barbosa. Não pela posição que eles ganharam, não é qualquer um que tem esta dádiva divina! Eu mesmo não tenho. As outras coisas são conseqüências. Eu não aceito parceria de ninguém! São estes compositores que me mantém com mais de trintas e poucos anos de pé! Abaixo de Deus, eu devo há eles. Se não fossem eles, eu não estaria aqui! As maiorias são favelados, pobres, desempregados e de baixas rendas, quase todos moram na Baixada Fluminense do Grande Rio. Esse pessoal tem um poder de criatividade fora do comum e quase todos são analfabetos. Eles me colocaram numa situação privilegiada. Eu não tenho concorrente. A música de trabalho deste disco seria, “Produto importado”, ai teve um bafafá, que não podia! Por mim eu colocava! E aonde eu chegar, toco. É uma composição do G. Martins. Fala de um produto que vem da Colômbia, Bogotá! Mas será que lá só vende cocaína? Não vende geladeira, televisão, automóveis, jogador de futebol. Sabe como é que é! Então trabalhando a primeira faixa que é “Semente”. Os autores me enviam várias fitas, agora fica mais fácil. Acontece que no passado eu subia vários morros com um gravador e ficava escutando, até na cadeia eu ia! Tudo isso porque uns tinham complexo, outros vergonha. Na cadeia é porque não podiam sair mesmo! Agora mesmo eu fiz uma pesquisa. Como cantor pobre, não tenho dinheiro para bancar nada, nem automóvel e nem geladeira para dar de presente para a rádio tocar minha música (e se tivesse também não dava!). Então este último disco que fiz vendeu mais de duzentos e cinqüenta mil cópias sem tocar nas rádios. Eu tenho um público jovem e roqueiro, e sobre esta coisa toda e eles falam mesmo! “Bezerra eles não tocam seus discos nas rádios, mas nós compramos assim mesmo!”. Voltando ao disco, gravei uma música do Neguinho da Beija Flor “Bem melhor que você” e gravei um samba chamado “Em seu lar”, do Norival Reis, mais conhecido como Vavá da Portela, que eu já havia gravado nos anos 70, tocando surdo e quem cantava era Flora Matos. Gravei “Noticia” que é de Nélson Cavaquinho, Lourival Bahia e Alcides Caminha.

Como foi a participação do Marcelo D2?
O Marcelo é um cara legal! Gosto dele e ele de mim. Eu estava em São Paulo, quando um rapaz pegou um disco do Planet Hemp. Era ele e tinha regravado “Vou apertar, mas não vou acender agora”. Isso passou. Quando foi um dia ele me chamou para participar de um show no Canecão. Fiz o show numa quinta-feira, até o Frejat estava lá.Quando foi no sábado, eu havia viajado para Salvador para fazer show, quando cheguei no hotel, peguei o jornal e estava lá: “Preso Planet Hemp”, aquele negocio todo. Comentei com a Regina minha esposa. “Quer apostar que meu nome está aqui? Ela perguntou porque? É porque eu sou a bola da vez! Quando abrir o jornal estava lá. O Bezerra da Silva já cantou...”. Se você não sabe a maconha é remédio! Manga Rosa é o nome de uma maconha, tem Cabeça de Nego, que ninguém consegue fumar um baseado inteiro sozinho. Quando Marcelo entrou em cana eu mesmo fiz a versão e o convidei. “Doutor Deus criou a natureza e também a beleza desta vida e o Planet Hemp quer saber porque que esta erva é proibida?” (parte da letra da musica “Garrafada do Norte” em que Marcelo D2 teve participação especial). Tem também “Minha sogra parece sapatão”, “O bom juiz” que é do falecido Beto Sem Braço e Serginho Meriti.

E shows?
É o seguinte, devo ser o único artista que não faz.

Por que?
Porque não tem. Eu vejo muitos que dizem que estão com agenda cheia, (Vou tocar na França, na Suíça, Inglaterra) e daqui a pouco o cara está duro na esquina pedindo dez merreis emprestado. Mente para está na mídia. Vou para São Paulo para fazer o Bem Brasil, SESC... Quanto ao show? Quando digo o valor eles não querem pagar. Principalmente aqui no Rio de Janeiro. Eles gostam do show de graça. Dão um sanduíche, se você dá dois eles te dão, arrumam uma poeirinha até para cafungar.

Você tem disco lançado fora do Brasil?
Tem sim, uma vez estava em Boston, com um amigo, e fomos juntos numa loja de disco do mundo inteiro e mostrou vários discos meus e ainda brincou dizendo para quando eu chegar no Brasil, verificar se eles estavam me pagando certo. Tenho disco em Portugal, na África... Tenho disco em lugares do mundo que eu nem conheço!


Entrevista concedida originalmente ao jornal International Magazine em agosto de 2003. Esta entrevista, segundo o próprio entrevistado, foi a melhor e mais completa já feita em sua carreira. Vale informar também que: Uma parada cardíaca, conseqüente, a enfisema pulmonar e pneumonia, levou à morte o cantor e compositor José Bezerra da Silva dia 17 de janeiro de 2005, no Rio de Janeiro, aos 77 anos.

junho 18, 2007

D2


Marcelo Maldonado Peixoto, 35 anos pai de três filhos, mais conhecido como Marcelo D2. Uma pessoa que pode se dizer sagaz e até cascudo, veio direto do Andaraí, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro. Foi camelô quando jovem, antes de fundar o Planet Hemp, primeira banda a fazer apologia a maconha no início dos anos 90. Lançando seu sétimo disco, sendo cinco com o Planet Hemp, uma coletânea e o mais novo “À procura da batida perfeita”, uma fusão bem feita de rap com samba e com letras cada vez mais maduras e com batidas e levadas diferenciadas e surpreendentes, num bom disco. Em conversa com o jornal International Magazine na edição (93), D2 falou de seu novo trabalho, como o concebeu e o orgulho de ter lançado um disco de rap com misturas de samba.


Quantos discos lançados?
Foram quatro do Planet Hemp, dois solos meus e um que é Hip Hop Rio, uma coletânea, este seria meu sétimo disco.

Como foi o primeiro disco solo “Eu tiro é onda”? Alcançou o esperado?
No Primeiro disco “Eu tiro é onda”, aconteceram algumas coisas. Era uma época em que eu não estava tranqüilo. Estávamos num período em que fomos presos (Planet Hemp), meu pai morreu assim que eu terminei o CD. Não foi uma fase muito boa. O disco não foi fácil de trabalhar, apesar dele ter vendido 80 mil cópias, mais do que o esperado. Fiz poucos shows para divulgar. Acontece que assim que eu acabei de fazer o disco, senti que faltava alguma coisa, que na realidade era o samba. Eu precisava ter colocado mais samba no rap. O rap esta começando a se estabilizar no mundo. Você hoje em dia tem artistas de peso como Gabriel (Pensador), Racionais, o rock do Planet Hemp, o Xis e até mesmo o Sabotage. Demorou quatro anos o processo do primeiro disco para o segundo “À procura da batida perfeita”. Fizemos dois do Planet Hemp ao vivo e um de estúdio, mas pensando neste meu disco o tempo inteiro. Eu não coloquei a mão na massa os quatro anos porque estava sempre envolvido em outros trabalhos. Mas chegou um momento em que eu cheguei para dois caras que me ajudaram a fazer este CD (Davi Corcos e Mário Caldato) e falei: “Vamos fazer agora este disco?” O Davi que é muito meu amigo e o próprio Mario que já trabalha com agente desde o Planet e no meu primeiro solo. Neste disco ele é uma espécie de amigo mesmo, sou padrinho da filha dele. Estes caras foram os que mais me ajudaram a fazer este trabalho, foi assim que começamos a elaborar o disco.

Vamos falar sobre “À procura da batida perfeita” ?
Eu gostaria que muita gente ouvisse este disco. Gostaria também que ele inaugura-se uma nova era no rap. Não que eu tenha inaugurado até por que, já foi inaugurado. Eu quero dizer é que da para se fazer um disco de rap brasileiro, com músicos brasileiro e bem produzido. Um disco que quando tocado o ouvinte identificar como um rap do Brasil. Esta é minha expectativa. Vou começar a fazer shows em breve. Agora turnê mesmo para divulgar o disco, somente no segundo semestre. Estou muito orgulhoso de ter feito este disco e espero está dando uma contribuição positiva para o rap do Brasil. Falo isso em agradecimento por tudo o que o rap fez por mim, simplesmente tudo que tenho agradeço ao rap. Não sou músico faço rap. Cantei a legalização da maconha, cantei contra a polícia, cantei liberdade de expressão, ta ligado? Fiz um disco falando de samba e valorizando os arquitetos da musica brasileira e dando ênfase ao samba. Eu vejo que os sambistas mais antigos olham até com outros olhos, achando que isso que faço não é musica. Mas isto é o que é agora. Eu respeito muito o Cartola e Paulinho da Viola e muitos outros da antiga. Hoje em dia nós somos americanizados! Comemos no Mc Donald’s, usamos tênis Nike, temos influências de várias coisas, assim como tenho do samba. O rap pode tomar um rumo no Brasil fortalecendo-se como musica brasileira. É um meio de várias pessoas poderem fazer musica sem saber tocar instrumento algum. É por isso que estou muito orgulhoso deste disco.

Como foi ter seu filho participando de seu disco?
Sempre quis escrever uma musica para o meu pai. Mas sempre achei que era meio brega. Um dia estava andando de carro com meu filho e ele no banco de trás cantando todas as rimas do Hip Hop Rio. Até brinquei com ele, “Vou fazer uma letra para você cantar”. Quando estava fazendo o disco pensei em fazer uma homenagem ao meu pai e chamei meu filho para cantar junto comigo. A letra não fala necessariamente do meu pai, mas fala da nossa família, o que aprendi com meu pai e estou passando para o neto dele. Esta foi a melhor maneira de homenageá-lo.

Fale-me das participações de convidados.
Tem a participação do Mamão que já tocou com o Tutti-Frutti e Azymuth, e tantos outros artistas. Eu considero o Mamão um arquiteto da música brasileira, assim como João Donato e Bezerra da Silva. Tenho uma admiração muito grande por estes músicos mais experientes. No caso do Mamão ele tocou bateria com muita gente boa. Para mim é uma burrice falar que os grandes músicos são aqueles que venderam milhares de discos. Esses caras não são aqueles que aparecem na frente do palco, mas são aqueles que fizeram o disco e nem sempre a mídia dá o valor merecido para eles. Tem o Tuca, filho do Bezerra da Silva que toca bastante percussão, Seu Jorge que é meu compadre também. Tem o Rafael Crespo que é do Planet fez uma guitarra na música “Qual é?”. O Pedro Garcia que entrou no lugar do Bacalhau no Planet, não tocou nada, mas gravou algumas coisas em seu estúdio caseiro. Tem a participação também do produtor Mario Caldato onde dividimos a autoria da faixa “Vai vendo”. O próprio Mario atendendo minha sugestão trouxe o DJ Mix Mastermike. Que foi irado! Ficou perfeito! É um dj que se não for o melhor, está entre os melhores do mundo, para fazer este tipo de coisa (scratch). Foi uma experiência muito boa, até por que estava acostumado a trabalhar com o DJ Zé Gonzales que é o meu dj oficial. Ter a participação de Mix Mastermike no meu disco, significa para mim a mesma importância se tivesse um Luiz Bonfá, João Donato ou até mesmo Tom Jobim. Tem a participação também do Will. I. AM, em “C. B. Sangue Bom”. Ele faz parte de uma banda americana e que já sampleou Jorge BenJor. Outra participação é do Koolgmurder que toca com muita gente no EUA e no disco toca vários instrumentos. Se você prestar atenção ele toca baixo, teclado, banjo, piano, guitarra em várias faixas.


Como você compõe?
As letras na maioria eu fiz em cima da hora. Primeiro faço as bases e depois confecciono as letras. Estava sem compor uns cinco anos e fiz tudo na época de gravar.

Então se um artista te pede uma música você faz na hora e manda?
É. Foi assim com a música “Balança” quando participei do disco do João Donato “Managarroba”. Mas isso não é mole não! É um parto! Fiquei mais de duas horas olhando para o papel sem ter idéia nenhuma do que iria escrever. Até que vem algo e ai vou em frente.

Você ficou conhecido ficou conhecido através de uma banda que fazia apologia a maconha. O que mudou no D2?
Não mudou muito. Mas as coisas sempre mudam. Eu quando peguei este meu novo disco fiquei muito nervoso, cheguei a suar nas mãos, tremendo. Estava até comentando com minha esposa. Este é meu sétimo disco! Aquela ansiedade de ver o CD vim voando do Recreio dos Bandeirantes até o Flamengo. Este tipo de reação não mudou, mas já se passaram dez anos. Tive discos que venderam bastante, tenho uma história, continuo a freqüentar a Lapa, fico até de manhã bebendo com meus amigos. Só que eu não tenho mais vinte e poucos anos, agora são trinta e cinco anos! Tenho meus filhos. Não ando mais de skate, não sou mais aquele molecão da Lapa. A vida muda né? Isto reflete bastante nos disco. Quando pego uma letra que fiz há quinze anos e comparo com as de hoje, acho muita diferença. Escrever uma música como “A culpa é de quem?”. Eu tinha uns 18 anos, hoje não faria, tinha aquela revolta de quando se é jovem. Agora vejo as coisas diferentes, minhas letras eram mais diretas. Não tem mais refrões como “Legalize já!” e “Planet Hemp fazendo a sua cabeça!”. Aquilo era uma coisa meio panfletária mesmo. O Planet ainda tem coisas assim, agora no meu disco solo não tem nada disso. No Planet nos reunimos para fazer este tipo de coisa há mais de dez anos. Nesta época o rap tinha aparecido no Brasil e combinamos em fazer isso já que ninguém fazia. Mesmo sabendo que poderíamos ser presos por falar mal dos políticos, da policia. Foda-se! Era isto que nós queríamos. Neste meu disco a preocupação não é esta. Teve um amigo meu que um dia deste comentou comigo que eu parecia que estava dando uma lição de moral em alguém em uma de minhas letras. Coloquei no encarte do CD as letras para as pessoas lerem e tentarem entender, mesmo que seja de uma maneira diferente.

O Planet Hemp vai ficar na geladeira ou vai acabar?
Vai ficar né! Tem que dar uma parada até o ano que vem em função do meu disco solo, o Planet ainda não acabou.


Na época do lançamento do “Eu tiro é onda” o Planet Hemp tinha dado uma parada. Quando voltou veio com uma formação diferente. Qual foi o motivo?
Eu, Skank, Rafael, Formigão e BNegão e ainda outras pessoas como Marcelo Yuka... Olhando hoje eu vejo mais clara a situação. Teve momentos perturbadores naquele período. A policia nos perseguindo em todos os lugares, estávamos com uma exposição muito grande, nosso disco tinha virado disco de platina. Era uma parada absurda, isso pesa muito. E não é somente isso, depois de vender muito disco, a banda estava viajando muito. O primeiro a sair foi o Rafael, o Jackson que era roadie, assumiu a guitarra. Quando paramos, havia rolado uma briga geral, acabou o Planet Hemp, não oficialmente, mas tinha dado uma parada. Fui fazer meu disco solo. Quando voltamos encontrei com o Rafael e perguntei e ai beleza? Foi assim com Formigão e o BNegão e os outros. Com o Bacalhau não rolou, sabe colé? O Bacalhau simplesmente não voltou com o Planet Hemp, ta ligado ? Então decidimos colocar outro baterista, foi quando chamamos o Pedro Garcia que é filho do Bebeco Garcia (ex-Garotos da Rua) aquele guitarrista do Sul. O Rafael que estava fora, voltou. Isto é uma parada que é meio foda. É lógico que a nossa amizade ficou abalada, não nos falamos como antigamente, acho que um olha para o outro... É uma merda sabe? Isso não acontece só com o Bacalhau, isso acontece no mundo todo. Fomos muito amigos, eu sinto muito isso, de estar longe do cara. Mas a vida é assim mesmo às vezes temos que tomar certas escolhas. Ele tomou o rumo dele, toca numa banda. Nós nunca brigamos. Banda é assim mesmo eu aprendi isso nestes dez anos. Se fosse assim banda nenhuma teria se separado. O Planet já teve muita gente! Eu, Formigão, Skank e Rafael. O Bacalhau era o quinto elemento, depois que o Skank morreu veio o BNegão. Depois começou a entrar gente e sair como, Zé Gonzales, Negralha, Apolo 9, até o Yuka já tocou com a gente, gravou o disco ao vivo da Sony, foi logo depois que o Bacalhau saiu e não tínhamos baterista e o Marcelo Yuka tocou.

Você pretende fazer algum dia um disco de rock sem o Planet Hemp?
A minha veia de rock está ligado ao Rafael e o Formigão, que são meus parceiros de muito tempo e que tem mais condições de fazer um som deste tipo. Eu tenho vontade de fazer um som com o Rodolfo (Rodox). Fazer rock só mesmo no Planet que tem a base rock, com eu cantando rap em cima. Foi assim com a musica do Led Zeppelin no disco “Os cães ladram...”. Andamos até conversando sobre o próximo disco do Planet, podíamos ter um vocal de rock, já que o Rafael canta bem.

Publicado originalmente em julho de 2004 no jornal International Magazine edição 93.

junho 11, 2007

Revolucionnários


Revolucionnários
A banda do Champignon

Champignon, baixista e ex-integrante do grupo de rock Charlie Brown Jr., apresenta o primeiro trabalho da sua nova banda, Revolucionnários, formada em 2005. Na nova fase, Champignon assume a voz. Nas letras, o líder da banda traz mensagens conceituais e coisas vividas no cotidiano de uma sociedade carente, romântica, violenta e implacável. “O conceito da banda é: político, social e religioso. As pessoas absorvem tudo o que a gente fala, então, que seja tudo o que tenho de melhor. Não sou o dono da verdade, mas assim, elas podem aprender um pouco mais da vida com as experiências que já vivi”, declara Champignon.

Para alguns isso tem o ar de uma volta do músico. “Nunca parei. Voltado aos olhos de quem está de fora da situação, parece uma volta, mas sempre trabalhei e toquei, mesmo sendo primeiro disco que estou lançando depois que deixei a antiga banda”, avisa.

Para quem não sabe, Champignon, já tinha esse projeto na manga mesmo antes de deixar o CBJ. “Revolucionnários era um projeto que eu tinha antes mesmo da sair do CBJ. Vinha fazendo músicas e muitas não foram aceitas no grupo. Fui guardando, escrevendo mais letras e compondo. Com o tempo fui aprimorando. Aprendi abordar os temas de uma forma poética. Coloquei as letras em músicas que já estavam prontas e que eu achei que deveriam entrar em algum trabalho. Isso representa a metade do disco - Retratos da Humanidade”, esclarece.

O álbum de estréia da banda, Retratos da Humanidade, traz 14 faixas. O trabalho foi produzido por Tadeu Patolla no Patolla Áudio, que entre outros artistas já produziu Charlie Brown Jr., Biquíni Cavadão, Sideral, Berimbrown, Patrícia Coelho e Deborah Blando. A masterização ficou por conta de Rodrigo Castanho, responsável pela descoberta do grupo O Surto e de produções de vários artistas como Tihuana, CPM 22, Planta e Raiz e Supla.

Retratos da Humanidade é um lançamento do selo Champirado Records com distribuição da gravadora Universal Music. “Criei esse selo para lançar nossos discos e outras bandas de rock que tenham uma linguagem bacana”, avisa Champignon comentando: “Gravamos o disco até o final do ano passado. À música (Revolucionnários) trabalhamos por uns cinco meses, mas como o cd não havia sido lançado por questões burocráticas, demorou a ser lançado. Saiu agora e a música de trabalho é (Como num sonho perfeito) e estamos preparando o clipe”.

Revolucionnários que debuta em Retratos da Humanidade, é formado por músicos novos, mas com boa experiência nas noites de Santos. “Eu tinha metade de um disco pronto e uma vontade de fazer um projeto. Como já havia tocado com o Pablo Silva (baterista) há dez anos, ele é filho biológico do baterista Nenê e foi criado desde os dois anos de idade pelo Robertinho Silva, convidei para ingressar na banda. Os outros integrantes, Nando Martins e Fábio Cavêra ambos guitarristas e Diego Richi – percussão, já os conhecia do circuito de Santos. Todos, mesmo com pouca idade, já tem em seu currículo vários trabalhos que o dignificam como profissionais da música. Consegui juntar essa galera e fomos amadurecendo como banda”.

Quanto a sua antiga banda, Champignon declarou: “Descobrimos algumas coisas sinistras dele junto com o empresário. As brigas já vinham acontecendo em função dos interesses pessoais que fui descobrir depois e entender o porque da insatisfação dele com os outros membros da banda. Em função disso, vimos que: ou passava por cima de meus valores ou pulava fora! Só que foi uma coisa meio que em conjunto, ninguém quis ficar como ele. Sou amigo de todos os outros membros da banda. O Marcão está vindo com a sua banda (TH6)”.

Finalizando, Champignon fala: “O que veio do CBJ, é o que sempre fiz e estou fazendo dentro da minha nova banda. Só que agora tem uma cara nova, com músicos novos e eu assumir os vocais”.


Texto publicado originalmente na edição 128 do jornal International Magazine.

junho 07, 2007

Christiaan Oyens

Cantor e guitarrista Uruguaio, Christiaan Oyens fará única apresentação no badalado espaço da Letras e Expressões de Ipanema no Rio de Janeiro. Além do repertório de seu primeiro disco “Adeus paraíso”, interpretará canções como: “Enquanto durmo” parceria com Zélia Duncan. Christiaan ainda mostrará em primeira mão, canções do repertório do seu segundo disco que está em fase de criação em conjunto com o surfista brasileiro Teco Padaratz. No show o guitarrista contará com seus amigos de peso como: Paulinho Moska e Milton Guedes.

Christiaan Oyens (Voz e violão havaiano Weissenborn), estará acompanhado de: Dunga (Baixo), Fabrício Matos (Violão e vocal) e Berbel (Percussão)

Dia: 09/06 (sábado)

Local: Letras e Expressões de Ipanema (Rua Visconde de Pirajá, 276)

Hora: 21h

Preço: 15 reais

Reservas: 21 - 2521- 6110

junho 05, 2007

Oficina de Bateria Rui Motta

Rui Motta, baterista consagrado que além de tocar com diferentes artistas e lançar discos, ministra aulas de bateria e administra uma oficina de bateria “Oficina de Bateria Rui Motta”, situada na Zona Sul do Rio de Janeiro, está completando um ano fazendo profissionais de diferentes níveis. Vale lembrar também, que o mais novo livro assinado pelo baterista “Curso de Divisão Rítmica – Volume 2”, com dois Cds contendo 97 trilhas e mais 750 padrões rítmicos, se encontra à venda.

junho 02, 2007

A Banda do Stg. Pepper's

Desde seu lançamento no dia 1º de junho de 1967, o "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" dos Beatles é um disco divisor de águas e detém o ambicioso título de maior obra prima definitiva no mundo do rock. Falar do “Sgt.Pepper's Lonely Hearts Club Band” é chover no molhado. Feliz aniversário Sgt. Pimenta!

1 - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band
2 - With a Little Help from My Friends
3 - Lucy in the Sky with Diamonds
4 - Getting Better
5 - Fixing a Hole
6 - She's Leaving Home
7 - Being for the Benefit of Mr. Kite
8 - Within You without You
9 - When I'm Sixty Four
10 - Lovely Rita
11 - Good Morning Good Morning
12 - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (reprise)
13 - A Day in the Life

junho 01, 2007

Nação Zumbi assina com gravadora carioca

A nordestina Nação Zumbi, uma das mais emblemáticas e importante banda do cenário nacional, acaba de assinar com a Deckdisc. O contrato de longa duração foi fechado semana passada, em São Paulo. O grupo entra em estúdio em julho para registrar o 5º álbum da carreira sem o lendário Chico Science, com previsão de lançamento para outubro deste ano.

“Trata-se de sonho antigo ter a Nação Zumbi em nosso cast, por tudo que ela representa para nós, para os demais artistas do nosso elenco e para todos os participantes do mercado fonográfico brasileiro”, disse João Augusto, diretor geral da gravadora.