julho 18, 2007

Rodrigo Santos


Rodrigo Santos em carreira solo

Acostumado à correria de uma agenda repleta de shows, Rodrigo Santos, baixista do Barão Vermelho há 15 anos, vem preparando o CD “Um pouco mais de calma” com expectativa entre um show e outro. Com as músicas no ponto, o baixista assume agora seu lado cantor e parte para o teste de seu primeiro CD solo, com lançamento previsto para o primeiro semestre deste ano.
Assumindo o vocal e o violão, Rodrigo estará acompanhado de parceiros de outras viagens musicais, como Kadu Menezes (Kid Abelha) na bateria, Fernando Magalhães (Barão Vermelho) nas guitarras, violões e vocais, Humberto Barros (Kid Abelha/Lobão) nos teclados e vocais, Nani Dias (Os Britos) na guitarra e vocais, e Jorge Valladão no baixo, violões e vocais. Em entrevista exclusiva, Rodrigo fala de drogas, amigos e de sua trajetória dentro da música.

- Como você foi parar na música? Você é autodidata?
- Sou, tive umas aulas de violão com Nilson Chaves, mas de baixo foipraticamente sozinho. Umas quatro aulas com Nico Assumpção me deram uma base. Ele mesmo falou para seguir o meu caminho, que estava tudo certo. A meu aprendizado foi ter escutado discos dos Beatles, Stanley Clarke, Yes, Pink Floyd, Neil Young, Crosby, Stills and Nash, Led Zeppellin, Jaco Pastorius, A Cor do Som, Pepeu Gomes, América, Jean-Luck-Ponty, Fletwood Mac, Stevie Miller Band, Doobie Brothers, Almann Brothers, Jethro Tull, Rita Lee, Paco de Lucia, The Cure, The Smiths, U2, Peter Frampton, Rolling Stones, Wishbone Ash, Paralamas, Kid Abelha, The Police, Men At Work, Duran Duran, Brian Ferry, Pretenders, ACDC, Supertramp, Cat Stevens, James Taylor, Elvis Presley, Bill Halley, Stray Cats, Bob Dylan, Caetano, Gilberto Gil, Secos e Molhados, Novos Baianos e Raul Seixas. Sempre fiquei horas tirando os baixos, vocais, violões, solos, etc. Escutei muita, mas muita musica mesmo! Mas fui parar na música por causa dos Beatles. Principalmente pela riqueza da história e da magia que eles proporcionaram. Gosto muito de melodia e não abro mão disso. Talvez, por isso goste mais das bandas dos anos de 60,70 e 80. Não gosto muito de rap. Por exemplo: salvo raríssimas coisas como, RunDMC e Gabriel o Pensador, as coisas faladas de guetos não me atraem. Gosto da musicalidade dos trovadores e da música com melodia cinematográfica.

- Fale das primeiras bandas de que você foi integrante. Como você conheceu o Nani Dias e formou uma banda? Você chegou a tocar no Telefone Gol?
- O Telefone Gol não era comigo e sim com o Dé. Foi uma facção do Front, banda que contava comigo, Kadu Menezes, Nani Dias e Ricardinho Palmeira. Nani e Kadu foram depois pro Telefone Gol. No Front, fui convidado a substituir Bruno Araújo no baixo. Alguns meses depois, o vocalista Beto saiu e assumi os vocais durante dez anos com muitos shows, TV e radio. Em 1984, mais ou menos. Já conhecia o Kadu, tivemos uma banda chamada Choque Geral. Ele me indicou para os Eletrodomésticos. Com a saída do Bruno, Kadu me chamou para o Front e em seguida, para os Miquinhos. Tive nesse meio tempo uma banda chamada Prisma com Marcelo Serrado, André Estrella, Nito, Felipe e João Guilherme Estrella. Éramos muitos conhecidos no Rio de Janeiro.

- Você tocou com alguns nomes marcantes da música nacional. Fale-me sobre acompanhar o Leo Jaime e Lobão? Como foi que isso aconteceu?
- Como disse, ao entrar para no João Penca e seus Miquinhos Amestrados, eu abri uma porta grande na cena musical carioca, pois os Miquinhos eram muito famosos no Rio e logo em seguida no Brasil inteiro. Conhecemos o Leo Jaime ali. Ele foi um dos vocalistas e compositores dos Micos. Ao mesmo tempo, assinamos com a antiga CBS, a gravação de um compacto do Front, já comigo nos vocais, produzido pelo Leo, que também era da CBS. Quando Leo mudou a banda, o Front todo foi tocar com ele e mais o tecladista Glauton Campello. Fizemos milhares de shows por mais de dois anos, lançamos dois discos e ainda colocamos uma musica do Front na trilha do filme Rock Estrela, estrelado pelo Leo. Quando Leo Jaime trocou de novo a banda, fiquei uns meses tocando aqui e ali com o Front, até pintar o convite do Lobão. Foi um telefonema dele, indicação do meu amigo e guitarrista Sergio Serra do Ultraje a Rigor, que na época estava ensaiando com Lobão à tarde e a noite, eu já era da banda. Como tocamos em trio, eu, Serginho e Lobão, a sintonia foi absolutamente perfeita e eu tinha encontrado um grande baterista a altura do Kadu Menezes. Lobão na batera, eu no baixo e Sergio na guitarra, foi à formação do disco Cuidado, de 1988. Serginho saiu antes da turnê e, para fazer shows, precisávamos também de um baterista, pois Lobão tocava guitarra. Chamei Kadu e Nani. Pronto, estava formado Os Presidentes. Fizemos mais dois discos Sob o Sol de Parador, em Los Angeles, produzido pelo Liminha e, também o Ao Vivo no Hollywood Rock de 1990 na praça da Apoteose. Eu ainda gravei sem eles o disco O Inferno é Fogo de 1991. Fiz a turnê e Lobão resolveu fazer só violão e voz.

- Como você entrou para o Barão Vermelho?
- Pois é! Na mesma semana Dadi saiu do Barão, fui imediatamente convidado. Quando Dé saiu, eu já era um dos nomes cogitados pelo Guto e Frejat. Estou a 16 anos no Barão e é a formação mais duradoura e definitiva da banda. Somos uma família. Gravei sete discos e fizemos muita...muita coisa. Nesse tempo também toquei com Kid Abelha, Moska e Blitz, quando o Barão estava de férias.

- E Os Britos? Como começou?
- Os Britos foram formados em 1994, convidados pelo Circo Voador paralançamento do filme BackBeat, que em português saiu como “Os Cinco Rapazes de Liverpool”. Montamos a banda, gostamos do resultado e foram muitas canjas depois e várias gargalhadas também. Eis que conhecemos Pedro Paulo Carneiro, o quinto Brito. Pedro Paulo com o apoio do Visit Britain, nos levou a Londres e Liverpool em 2005, onde gravamos o nosso DVD/CD, “Os Britos Cantam Beatles”. E 2006 repetimos a dose. Agora em 2007 recebemos um prêmio do príncipe Andrew da Inglaterra, pela divulgação do Reino Unido através da música. No nosso CD tem duas músicas inéditas, pois descobrimos a facilidade dos quatro para compor juntos. Estamos a pleno vapor.

- Você agora está trilhando a carreira solo. Dá um frio na barriga?
- É muito bom! Gosto de desafios! O primeiro grande desafio foi parar com álcool e drogas em agosto de 2005. Hoje não uso nada e depois disso qualquer desafio que se apresente na minha vida, encaro com responsabilidade, coragem, persistência, prazer e dedicação. Minha carreira solo passa pela minha abstinência e o que aprendi no Centro Vida, clinica psiquiátrica de recuperação de alcoolismo e dependência química. Estou livre em todos os sentidos, para fazer melhor as minhas escolhas. O processo do disco solo e do show, é muito mais amplo do que apenas música. Tenho uma família sólida, minha mulher e meus dois filhos que me apóiam em tudo que faço. Então trilho a carreira solo com muita vontade e sabendo que faço o que escolhi e gosto. O frio na barriga é normal, mas o público tem sido bem receptivo. Já fiz alguns shows no Rio de Janeiro. Foram sete na Letras e Expressões de Ipanema, dois no Teatro Odisséia, um deles encerrando o festival Mada/LaboratorioPop e um show em Brasília, onde tivemos que voltar ao palco quatro vezes. Nesses eventos, pude contar com participações especialíssimas dos Britos, Leoni, João Penca e Seus Miquinhos Amestrados, George Israel, Digão, Phillipe Seabra, Sérgio Serra e Tico Sta Cruz. Meus companheiros de banda são Fernando Magalhães, Kadu Menezes, Nani Dias, Humberto Barros e Jorge Valladão, músicos fantásticos e amigos inseparáveis e insuperáveis. Sinto-me em casa!

- Fale sobre este seu primeiro disco solo.
- O CD se chama “Um Pouco Mais de Calma”, nome de uma letra que fiz e musiquei com Frejat. Foi produzido por Kadu Menezes, meu fiel escudeiro e produtor de alguns discos do Kid Abelha. Todas as canções são de agosto de 2005 pra cá! Não quis nada antigo. Abri uma exceção para “O Sono Vem”, musica minha gravada no CD “Puro Êxtase” do Barão de 1998. Por ser feita pra minha esposa e por achar uma canção desperdiçada no disco do Barão. Tem “Que Língua Falo Eu”, parceria minha com Lobão e Tavinho Paes. Muitas são letras e músicas minhas e outras com parceiros como Zélia Duncan, Frejat, Mauro Sta Cecília, George Israel, Lobão e Leoni. Tem influências de muitos artistas que aprendi a gostar, mas a mistura disso tudo resulta em Rodrigo Santos. O violinista Leo Ortiz deu um toque especial ao disco. Além dele gravaram, Fernando Magalhães, Kadu Menezes, Nani Dias, Humberto Barros, Bruno Migliari e seu quarteto de cordas, Jorge Valladão, Flávio Guimarães, Leoni, Zélia Duncan, Frejat, Bruno Fortunato e George Israel. É um disco muito musical! Zélia divide os vocais comigo em O Peso do Passado e Leoni em Vai Ser Melhor Pra Você. Eu gravei os baixos, violões, vocais e vozes e algumas guitarras. Kadu gravou as baterias. .

- Quando sai?
Começou independente, mas agora conto com a parceria da Som Livre! Está planejado para sair em junho próximo, mas a música de trabalho estará nas rádios em maio.

- Sobre repertório: você vai fazer releituras de músicas do Barão Vermelho em shows?
- Em shows toco alguns “lados Bs” do Barão como A Máquina de Escrever, Flores do Mal, Cigarro Aceso no Braço, Cara a Cara, Vou correndo Até Você, O Sono Vem e apenas uma conhecida: Meus Bons Amigos. Mas posso aumentar esse número dependendo do show. Mas sempre de 1992 pra cá. Período que estou no Barão.

- Daqui pra frente o que o público do Rodrigo Santos, do Barão Vermelho e Os Britos, podem esperar?
Um Rodrigo Santos cheio de vontade e garra pra colocar tijolo por tijolo, construindo com consistência uma carreira solo e mais do que nunca humano e limpo! Minha cabeça é meu patrimônio e cuido dela com carinho hoje em dia. O resto vem com inspiração e trabalho, que é o mais prazeroso. A música está dentro de mim, seja nos Britos, Barão, Kid ou solo. O que importa é a escolha que vou fazer e o caminho a se traçado. Sempre com verdade, sem medo e da maneira que me sentir mais feliz.

Publicado originalmente no jornal International Magazine edição 132 - maio de 2007.

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