novembro 14, 2007

Autoramas, a máquina de fazer rock


Autoramas, Gabriel Thomaz (guitarra e voz), Bacalhau (Bateria) e Selma Vieira (baixo e voz) lançam, “Teletransporte”, quarto disco de carreira. Na bagagem, o trio carioca, carrega além do lançamento do quarto disco, compactos, coletâneas e prêmios. Em 2005 o videoclipe da música "Você Sabe" é lançado e é agraciado com três prêmios no VMB desse ano. Com dez anos de carreira, divididos entre agendas de shows, que são muitos, participações em especiais que vai de “Baú do Raul”, passando por tributo ao rock “Rockin Days” e chegando ao “Renato Russo - Uma Celebração”, ao lado de feras da música. Encontramos um espaço na agenda dos integrantes “Gabriel e Bacalhau” para que eles concedessem a primeira entrevista ao International Magazine para falar da carreira, discos, mercado e muito mais! Com vocês! AUTORAMAS!

Por Elias Nogueira e Marcelo Fróes - 03/07/2007


Como foi preparado o repertório do disco?
Gabriel Thomaz - Juntamos 14 músicas que gostamos e gravamos. Na hora decidimos as músicas que vão dar pé e, rola. O engraçado é que foi a primeira vez que não sobrou música. Sempre fizemos na conta certa. E foi uma época muito doida pelo fato de a Simone ter saído. Vária dessas músicas, já havia ensaiado com ela, pelo menos umas três ou quatro. Aí fizemos tudo na conta para gravar, era um processo que tinha que ser mais rápido, a gente tinha meio que correr atrás do prejuízo, já tinha o lance com a Selma e uma série de mudanças que a gente tinha que registrar, o ano de 2005 foi muito bom para nós e em 2006, nós já queríamos lançar outro assim mesmo! Só deu para lançar agora, mas a intenção era ter lançado antes.

É o primeiro cd feito com a nova formação?
Gabriel - Lançamos um disco com a Selma logo que ela entrou, fizemos o “Rockin’ Days”, o lance do Elvis, e foi logo que ela entrou.

Bacalhau - Teve o tributo ao Renato Russo!

Gabriel - E o compacto que saiu em Portugal também têm a Selma tocando uma música ao vivo.

Bacalhau – A música é: “Mundo moderno” ao vivo que só saiu no compacto em Portugal.

Por que a mudança? A entrada da Selma no lugar da Simone?
Gabriel - Foi um processo de seleção natural (Risos). A Simone estava dando muito problema, ela estava infeliz, queria fazer outra coisa na vida. Brigávamos o tempo inteiro. Era uma encheção de saco! O que para nós parecia óbvio, ela não concordava. Aí um dia, quando estávamos indo para a Argentina e Chile em 2004, pra passar dez dias, ela ligou, disse que não queria viajar e que queria sair da banda. Em vez de insistir, a gente já sabia que isso ia acabar acontecendo, que era uma situação sem volta.

Quantos discos ela gravou?
Gabriel - Ela gravou três, esse é o quarto cheio, sem contar com a coletânea. A coletânea foi o seguinte: a gente podia regravar as músicas dos dois primeiros discos que estavam fora de catálogo e não se achava mais. Tipo lá em Brasília ter em uma loja a R$120 do selo Astronauta com distribuição da Universal. O Leo nunca quis mostrar os contratos, mas eu acho que ele passou todos os direitos para lá (Universal). Não sei direito. E tinha muita gente que queria comprar o disco e tal. É o que a gravadora chama de catálogo. Eu acho uma besteira eles não relançarem, tanto é que nós pegamos as melhores músicas dos dois primeiros, as músicas que a gente já era dono, das demos, dos compactos, juntamos e fizemos o disco que saiu pelo selo Monstro. O nome do disco é o Roooock. Esse lance do roooock fomos nós que inventamos! Só que muita gente passou a usar! Então, aproveitamos e pegamos tudo que era nosso, fizemos um pacote e lançamos. O disco já saiu com tudo vendido. Se a Universal quisesse relançar todos os outros, dava para vender, tem gente querendo comprar. Se você for à comunidade dos Autoramas no Orkut, tem gente querendo comprar os dois primeiro discos o tempo inteiro! Quando ocorre isso de a gravadora não querer relançar, eles poderiam colocar no site um download pago, e seria beleza, colocar tudo. É só questão de autorização.


No disco anterior teve um single que foi premiado. Gostaria que vocês falassem sobre isso também.
Gabriel - Foi do “Nada pode parar os Autoramas”. Foi muito bom pra gente. O clipe, “Você sabe”, foi uma das últimas coisas que a Simone fez. Fizemos o clipe num domingo e na quinta-feira, ela estava me ligando dizendo que estava fora da banda. Fiquei morrendo de medo! Tipo: Pó! Neguinho não vai levar a sério. O clipe vai ser animal, legal pra caramba! Só que com uma formação antiga! Graças a Deus, não rolou nada disso. Foi uma coisa que a gente passou, mas que não teve problema nenhum. Então, o clipe realmente era muito bom. Era o melhor do ano de 2005! O cara que fez, o Luiz, é um gênio. Saímos do VMB como a banda independente mais premiada do ano! Os grandões, ali, se matando, e quem saiu ganhando fomos nós!

Isso foi surpresa?
Gabriel – Total! O Bacalhau não esperava porque ele já havia feito uma previsão (risos).

Bacalhau - Quando eu vi o clipe pela primeira vez eu pensei: Vai ganhar! Aí, eu comecei a chutar, lembrando das categorias que a gente poderia vir a concorrer e falei: pelo menos cinco. Dos cinco que concorremos, ganhamos três!

Quais foram os que vocês ganharam?
Bacalhau - Foi melhor clipe independente, direção e edição. Mas concorremos também em fotografia e direção de arte.

E bateu na trave, né?
Bacalhau - Mas tudo bem. Eu acho que os melhores nós ganhamos. Se a gente também ganhasse tudo... Imagina se a gente ganha os cincos! Ia ser demais, cara! Ia ser loucura!

Gabriel - Eu tinha conversado com o Bacalhau, que um dia vinha o MVB, que o clipe estava tão bom e tinha que concorrer! Mas eu não sei como é esse esquema todo! As gravadoras estão ali lutando pelo espaço delas e tal! Eles investem muito nos artistas. Mas pensei que a gente deveria concorrer a alguma coisa de independente, mas que iria concorrer. Mas aí, o Bacalhau falou que íamos ter umas cinco indicações. Eu cair na risada! Aconteceu que: um dia me ligam da MTV e falam assim: Olha, você vai ter de estar em um telefone fixo que você vai dar uma entrevista ao vivo para a MTV, tal hora à noite. Pensamos que fosse no jornal, mas aí estávamos ligados e vimos: Jornal da MTV, especial indicados do VMB. Cara, aí eu lá... Já fiquei nervoso... Quando ouvi na televisão falando indicação. . . Autoramas! Pô! Estamos indicados! Beleza! Aí dois, três, quatro, cinco! Veio a minha entrevista e eles só entrevistaram os mais indicados, que foram os Autoramas, Ira e Nando Reis. E aí, eles ligaram pra falar isso, a gente já tinha entrado como um dos três mais indicados e depois ser o mais premiado, foi maravilhoso! Pra nós foi muito bom por uma questão de show. Porque os artistas queiram dizer ou não, nesse lance de propriedade intelectual. O artista ganha dinheiro mesmo é em show e a gente já sabia disso. A gente já tinha feito nossa engrenagem pra banda ser a nossa profissão para que a gente ganhasse o nosso dinheirinho nos shows já que a banda não tinha uma gravadora investindo. Resolvemos fazer o nosso próprio caminho ou então desistir. E quando ganhamos esse prêmio, no dia seguinte, tinha um monte de gente querendo contratar nosso show! Era gente que nosso empresário já tinha feito contato anos ou meses antes e que não confiaram nos Autoramas. Quando rolou isso, nosso circuito de show se fortaleceu muito.

Com quantos anos a banda está atualmente?
Gabriel - Vai fazer dez anos.

Os Autoramas é de fato uma banda carioca?
Gabriel - Foi formada no Rio. A banda é carioca. Eu sou de Brasília, formei minha banda Little Quail, quando eu era ainda moleque e já fazia música e já tinha umas idéias loucas e tal. O Little Quail foi uma banda que ficou muito famosa em Brasília. Era um sucesso regional! Era como as bandas Dibob e Forfun, aqui no Rio todo mundo conhece, vai para Curitiba ninguém conhece! O Little Quail era assim em Brasília. Lá era uma loucura, nossos shows levavam no mínimo, duas mil pessoas em salão de clube, que era uma parada gigante. E era assim: Brasília tinha tido aquela coisa toda nos anos 80 e nos anos 90 quando veio aquela coisa do grunge e tal gente e várias outras banda que lotavam os lugares. Mas o Little Quail foi à primeira banda a lotar os lugares. Depois vieram outras como Raimundos, Câmbio Negro... Abrimos as portas para essa geração! Quando começaram a rolar as paradas, a banda já tinha três ou quatro anos, começamos bem moleques e a banda já estava fortalecida. Em Brasília tem uma coisa louca que é a seguinte: Tem que ter uma confirmação do Rio ou de São Paulo, sabe? De repente quando a gente começou a sair nas revistas, jornais, resenha da nossa demo e tal, Brasília virou uma loucura.

Quantos discos o Little Quail lançou?
Gabriel - Como banda, dois. Aí veio à história do Banguela. A gente lançou o Banguela (Antigo selo que não existe mais que era dos Titãs) e a prioridade deles eram os Raimundos. Eles estouraram, foi aquela loucura também. Nós já tínhamos ido embora de Brasília e fizemos uma opção, sabe? Ficar em Brasília como “Reizinhos” ou cair no Rio de Janeiro e São Paulo e mergulhar no Brasil para ver no que dava. A gente optou por isso e na época parecia que a gente tinha investido errado, mas depois vimos que acertamos muito! Porque todos nós nos demos bem no que queríamos fazer e o Little Quail acabou sendo uma ponte para profissionalização na área da música. Desde então, fizemos muitas coisas. Fomos morar juntos, começamos a brigar muito, aquela coisa toda. Aconteceu que e o Banguela acabou e ficamos sem gravadora no meio da história. O Planet Hemp, por exemplo, ia assinar com o Banguela, mas eles foram para na Sony, se deram bem e a gente estava ali com um contrato que não valia mais nada e a situação se inverteu totalmente. Então, ficamos vendo a galera toda que também estavam ali gravando o primeiro disco na mesma época. O Planet Hemp, Pato Fu, Chico Sciense, Mundo Livre S/A, Raimundos... Foi isso. Assinamos com a Virgin que na época era um selo da EMI, uma subdivisão, até no mesmo prédio, e no meio do caminho a Virgin decidiu mudar tudo para São Paulo e todos os artistas tiveram o contrato cortado. Recebemos um telegrama, e aí a gente se deu mal nessa história de novo. Foi uma frustração muito grande! Começamos a brigar muito e aí a banda acabou. Primeiro o Bacalhau (baterista homônimo ao atual dos Autoramas), saiu da banda. A gente ainda fez uns outros shows que estavam marcados com outro baterista, o Rodrigão, que na época tocava no P.U.S. Era um antigo amigo nosso de Brasília. Quando cumprimos o último show, na viagem de volta, eu falei: Agora sou eu que estou saindo, vou fazer outra coisa! Acabei ficando em São Paulo, tentei trabalhar lá no estúdio com o Carlinhos Bartolini, mas a grana apertou e eu não quis voltar para Brasília como o Bacalhau fez. O Zé Ovo ficou em São Paulo. O Bacalhau foi pra Brasília e fundou o Rumbora e voltou para São Paulo. Eu já vim direto pro Rio e encontrei a galera na night e uns dois dias depois o Kassím me ligou perguntando se eu queria entrar para a banda Acabou La Tequila. Aí eu topei e a gente fez um monte de shows com o Tequila, que foi contratado pela Abril e depois descontratado e o disco ficou perdido. As histórias são inacreditáveis! O disco do Tequila foi gravado, levou cinco anos para sair e aí eu já tinha dado minha contribuição, mas estava com outras idéias. Fui falar com a Simone primeiro. A primeira formação dos Autoramas foi: Eu, Simone e Nervoso. O Nervoso era baterista do Tequila. A Simone namorava o Donida, baixista do Tequila. Então, a gente andava junto o tempo inteiro. Chamei a Simone, tinha vontade de montar uma banda com vocal masculino e feminino. Eu já era fã da Simone quando ela tocava no Dash. Achava ela muita engraçada, muito legal, achava que ia ser divertido viajar e tal. Porque banda também é isso, tem uma coisa de amigo, não é pra fazer só um projeto, tem que ter um astral! Se não tiver, não tem dinheiro que pague. São muitos horas e dias juntos e tal e começamos a ensaiar. Eu sozinho já tinha gravado umas músicas demo lá no Carlinhos, virou a demo dos Autoramas. O Alex Werner, que até hoje é produtor do Los Hermanos, marcou um show dos Autoramas e Los Hermanos no Empório. Estávamos mal entrosados, mal ensaiados, mas se não tivesse sido forçado por ele para fazer o show, talvez a gente estivesse só ensaiando até hoje. Aí rolou o primeiro show, deu uma animação, fomos para o Sul e para Brasília, já com o Nervoso.

Tudo isso sem lançar disco?
Gabriel - Só com a demo que estava vendendo bastante. O Little Quail já tinha um público muito grande e essa galera foi lá ver os Autoramas ver qual era. Os comentários dos fãs eram os mais diferentes em comparação com o Little Quail. Uns achavam bom ou ruim porque eram parecidos, outros gostavam ou não porque achavam diferentes. Mas aí a gente foi trabalhando, se entrosando e tal...

Isso foi em que ano?
Gabriel - O primeiro show foi em 1998. Até que o Tequila assinou com a Abril, que estava começando. Rolou uma pressão por parte da gravadora, no Tequila, que cada um tinha optar e ficar só com uma banda. Eu optei por ficar nos Autoramas e o Nervoso optou por ficar no Tequila e saiu. Foi engraçado: O Nervoso foi lá em casa, me chamou para tomar uma cerveja num boteco e começou a falar que tinha uma notícia para me dar... A gente tem que bater um papo sério... Parecia um fora de namorada. (risos).

Isso para avisar que estava saindo?
Gabriel - É, pra avisar que estava saindo. Eu morava com umas meninas e elas contaram a fofoca da saída do Bacalhau do Planet Hemp. Eu encontrava com as caras do Planet, comentava que eles estavam bem, shows pra caramba, cachê maneiro. (risos) E eles falavam: Também, meu irmão..Você quer ser preso?

O Nervoso era um bom baterista?
Gabriel - É um ótimo baterista. Nervoso toca tudo. O cara é multi-instrumentista.

Ele chegou a gravar com os Autoramas?
Gabriel - Só a demo e um compacto. Com o Tequila, Nervoso gravou tudo. Bacalhau gravou algumas faixas.

Bacalhau - Eu gravei uma faixa no primeiro e duas no segundo disco.

Gabriel - No segundo disco do Tequila eu toquei na maioria das músicas. Está nos créditos, só não aparece na foto da capa. Eu era membro da banda e toquei tudo, mas com essa pilha de sair, de mudar... Bacalhau também tocou no Tequila.

Bacalhau – Eu era do Tequila na primeira formação. Nós formamos uma banda no colégio: Era eu, Donida, Renato (do Canastra), Calado que hoje toca cavaquinho com a Teresa Cristina (ele sempre teve essa coisa do samba) e o Perna que hoje em dia é advogado. Depois entrou Kassim e a banda foi ficando maior. Eu saí em 1995 e tive que fazer uma opção entre o Tequila que já estava fazendo coisas legais. Na época já havia assinado com a Sony e tinha que fazer o disco, shows... Acabei levando o Nervoso para me substituir no Tequila.

Bacalhau, porque você saiu do Planet Hemp?
Bacalhau - Porque o Planet Hemp acabou! Na verdade a banda tinha parado de tocar e o Marcelo me tirou da banda. Não teve brigas nenhuma, só rolaram umas intrigas, umas fofocas loucas que inventaram... Tem gente faz o diabo para tirar as pessoas, que para eles são problemas em sua vida, por pensar diferente. Toda história que os Autoramas tem hoje em dia é o que eu queria fazer com o Planet. Eles preferiram fazer um caça-níquel. O Planet podia fazer tudo o que fez os Autoramas no Brasil, só que não fez...Chutou uma bola aí falando sobre maconha, discriminação, problemas sociais e poderia ter feito mais coisas, só que não fez...

Foi porque o Marcelo era mais voltado para um outro lado da música que não era o rock?
Bacalhau - Realmente, o Marcelo já tinha essa coisa do samba, já vinha encurtando com o rock. A gente achava isso chato demais, porque não era a veia principal e o que era rock foi ficando cada vez menos rock e o que era samba foi ficando cada vez mais samba. O que era uma banda ficou um lance de dj e um rapper.

Gabriel - Engraçado que eu como fã do Planet Hemp, acho que os dois discos que o Bacalhau toca, são os que você pode colocar no lado do rock. Depois que ele saiu isso mudou totalmente, virou um lance de dj e tal...

Bacalhau - O terceiro disco ficou um negócio fake, pastiche, uma cópia de si próprio, meio bomba...

Gabriel - Na verdade, depois que o Bacalhau deixou o Planet Hemp, desde então, todos os discos do Planet pareceram discos solos do Marcelo, essa que é a parada!

Como surgiu o convite para entrada do Bacalhau nos Autoramas?
Gabriel – Isso aconteceu três dias depois numa sexta-feira após eu saber da noticia. As meninas que moravam comigo falaram dele e o Nervoso também veio conversar comigo... Eu saí com a Simone, o Marco André, namorado dela, Donida. Todo mundo achou que Bacalhau ia ser legal, me animaram a falar com ele... Bacalhau já era amigo da night, de sair, conversar de bandas, festivais e tal... Pensei antes de conversar com ele, que poderia ser uma briga passageira com Planet. Como marido e mulher que depois ficam na boa! (risos) Mas para fazer uma parada profissional é outra coisa, não é zoação! Tem a zoação, mas o outro lado conta mais.

Bacalhau - Ele foi lá em casa checar minha coleção de discos!

Gabriel – O Bacalhau ainda fez um charminho, pediu uns dias para pensar. Quando vi o que ele escutava, percebi que ele ia entender.

Bacalhau - Eu já ouvia surf music, new wave e Jovem Guarda antes dos Autoramas!

Você sabia que o Bacalhau já gostava da Jovem Guarda antes de entrar para o trio?
Gabriel – Não sabia.

Como é essa relação com a Jovem Guarda e new wave?
Bacalhau - O Tequila foi formado num colégio, quando a gente começou a ouvir muito Roberto Carlos. Então a gente formou uma banda só pra tocar cover do Roberto Carlos e isso foi numa época em que o Roberto Carlos estava em baixa! Ele cantava pra gordinha, baixinha, aquela coisa terrível! Estava em uma fase ruim! Começamos a comprar os discos antigos, pesquisar, e nessa época não tinha internet, era mais difícil. Mas descobrimos na banca de jornal aqueles calhamaços que você aprende a tocar violão. E numa dessas saiu todas as músicas do Roberto Carlos que posteriormente viemos chamar de Bíblia. A gente pegou todas as músicas, todas as fases do Roberto Carlos, de 62 até 70, nós tocávamos de tudo. Antes do colégio a gente já ia ensaiar no Sarau, no Centro Educacional da Lagoa. Esse foi à primeira célula pro Tequila. Nós íamos lá para sala de ensaio, levava umas cervejas e colocava o pessoal pra cantar e tocar Roberto Carlos. Depois saímos para formar o Acabou La Tequila. Depois fui pesquisar Erasmo, Jerry Adriani... Fui querendo descobrir todos os caras da Jovem Guarda...Renato, todo mundo...

Os colegas da night deviam achar vocês malucos?
Bacalhau - Olha, é porque andávamos muito juntos e a galera ouvia Roberto Carlos direto.

Gabriel - Nos anos 90 tinha o seguinte: Quanto mais louca era a música que você ouvia, era mais legal.

Bacalhau - Eu falava assim: Eu adoro Roberto Carlos! Mas muitos colegas achavam que era uma maneira de eu aparecer! Todos estranhavam. Bicho, eu adoro o Erasmo, Wanderléa, Waldirene, Lafayette... Essa história do Lafayette tem uma coisa curiosa. Desde que eu entrei nos Autoramas, eu falava pro Gabriel: Nós precisamos chamar o Lafayette pra gravar um disco. Era um tal de Lafayette pra cá, Lafayette pra lá... Foi um tal de comprar disco do Lafayette... Até que foi a pilha de encontrar com ele e aconteceu. Nesse novo disco que lançamos, ele participou de uma faixa do disco novo “Panair do Brasil” que ficou muito bacana!

Além dos Autoramas, você age como músico, cantor, compositor, tem outras bandas como empresário. Você está com outros projetos, o que é?
Gabriel - Tenho um selo, uma parada que já venho pensando há muitos anos, desde Brasília, esse nome, Gravadora Discos, existe há muitos anos e rolou o seguinte: Primeiro a gente lançou um EP do Little Quail póstumo, em 1998, que foi a Gravadora Discos junto com a Tamborete, depois ficou parado. A demo dos Autoramas, era feito pela Gravadora Discos. Eu fazia um catálogo pra vender esses dois discos. Tinha o disco do Dash e camisetas dos Autoramas. Mandava para as pessoas pelo correio. Era o início da internet. Era uma outra coisa, uma outra fonte de renda. Era mais para pessoal que morava em Barbacena, Piauí, que era difícil comprar, então a gente vendia pelo correio. Isso já era a Gravadora Discos, só que não tinha muitos produtos. Depois disso não continuei porque os Autoramas dava muito trabalho, tinha muita coisa pra fazer, e pintou o lance com o Lafayette e Os Tremendões. Pensei em fazer um compacto pela Gravadora Discos, arrumei uma grana emprestada, já foi tudo devolvido e pago e, fizemos Gravadora Discos novamente. Reacendeu a chama de fazer com uma galera diferente. As pessoas que comprarem os discos da Gravadora Discos terá que arrumar um outro lugar pra guardar sua coleção. Fizemos os lance do The Feitos que é um SMD com pôster, saiu o compacto do Lafayette e vai sair um do Daniel Beleza e Seus Corações em Fúria, Móveis Colônias de Acaju e outras coisas. O problema é a produção toda e depois a promoção que é o mais brabo. Vinil é fácil de vender, não tem pressão, não é um produto caro, e eu quero fazer isso, as coisas em formatos bonitos. Acho que é isso que falta na indústria de discos. Adoro encarte, o cheiro do disco, a coisa toda e além do mais tem só música boa. Tem que ser só coisa legal, todos os estilos. Um dia numa entrevista me perguntaram: Qual era o direcionamento da Gravadora Discos e eu respondi: Só Música boa!

Bacalhau - As gravadoras com esse negócio de cd zero. Você vê: O Gabriel o Pensador lançou um cd com 14 faixas a R$5, muito barato! Eu acho a idéia boa, não é ruim. Tem gente que compra cinco músicas e tem gente que não compra.

Gabriel - Eu sei muito bem que tem neguinho que cuida, de três ou quatro faixas, com muito amor e carinho e o resto é encheção de lingüiça! Você para R$40 por isso. Rola mesmo! Antigamente o Elvis, um dos maiores artistas de todos os tempos, só lançava um compacto por vez. Não é inédito! Lado a e lado b. Todos os artistas da época fizeram isso. A compilação de compactos ainda te dava a certeza de que todas as músicas eram boas. O álbum, conceito feito lá atrás, com Sgt Peppers e Pet Sounds. Tem uns artistas de samba dos anos 50 que lançavam um disco com todos os nomes de mulheres. Isso sim era álbum! Hoje em dia isso seria um por cento dos cds. O que rola, é isso! Neguinho só se concentra em duas ou três... Isso é jogar dinheiro fora, o cara ficar dois meses gravando e já abe que não vale nada, que não vai tocar no show, a gravadora não vai investir pra tocar no rádio, não vai nada... Você pega um disco do Canastra, eles preparam o show e tocam o disco inteiro, esse disco está valendo. Agora o disco do cara que toca duas músicas do disco novo e o resto cover.

Bacalhau – Isso é não acreditar no próprio trabalho! Nem o cara acredita no disco dele...

Gabriel - Nos anos 80. Imagina se não tivesse lançado os compactos do Ultraje a Rigor, do kid Abelha... A galera tendo que comprar o LP a preço alto como vemos hoje... Não é assim, cara...

No show dos Autoramas vocês tocam o disco inteiro?
Gabriel - Tocamos a maioria. É porque a gente é uma banda que tem quatro discos e algumas não podem faltar no show. Se a gente ficasse duas ou três horas tocando, dava pra tocar o disco inteiro. Eu tocaria o disco inteiro. Agora, não rola, não é possível fazer. Nos shows da Europa, que a galera não conhecia, a maioria das músicas eram do disco novo.

Não é primeira vez que vocês fazem uma turnê internacional.
Gabriel - Primeiro foi à turnê no Japão, depois voltamos e fizemos Uruguai, Argentina. Voltamos pra Argentina, e fomos pro Chile também. Mas foi no Japão que a nossa cabeça abriu total. Como a maioria dos artistas brasileiros, achávamos que o nosso mercado era só aqui, que as pessoas só iriam gostar da gente aqui, porque nós cantamos em português, a gente fazia rock... Então, só quem iria entender o som seriam os brasileiros. Na real é o que colocam na nossa cabeça, que lá pra fora tem que fazer um som exótico aos olhos dos gringos. Não sei quem foi que inventou isso e que colou! Porque é a maior mentira! O que rola é que a gente chegou lá no Japão e vimos um outro mundo, uma outra parada. A gente cantando em Português, mas se fosse em francês, alemão, pra eles não estavam fazendo diferença alguma! Eles estavam ouvindo a música, doze músicas em cada show e na quarta ou quinta música o público já estava aderindo. Foi maravilha! Não teve problema nenhum.

Isso foi um termômetro pra vocês?
Gabriel - Depois recebemos muitos e-mails de pessoas querendo comprar nossos discos, saber da banda, do site e tal... Gente do mundo inteiro! Comecei a fazer contatos com pessoas de outros países. Nunca houve problema nenhum em relação a isso, nenhuma barreira e agente conseguiu marcar shows, fazer as turnês. Uruguai é um país que a gente vai toda hora... O último show nosso no Uruguai foi num festival com vários palcos. É um festival enorme em volta do estádio Centenário que no total do festival deu 80.000 pagantes. É gigante, e a galera curtiu, aplaudiu, se animou, colocaram até o vídeo até no Youtube. Não há problemas quanto a isso. Aí, no ano passado fomos convidados pra tocar em Londres. Fizemos dois shows lá e a Pitty. Aproveitamos pra fazer um show em Portugal, voltamos para Londres só pra pegar o avião. A gente podia ter curtido uma night em Londres, mas preferimos fazer um show em Portugal. Esse show em Portugal semeou outra turnê inteira. Foi isso que rolou! Fizemos Portugal inteiro, de ponta a ponta.

A primeira experiência de vocês foi numa multinacional. Digamos que a carreira de vocês tem uma história quase que atípica. Começaram em uma multinacional e foram acontecer no mercado independente. Hoje, você pega o globo e o cara escreve que os Autoramas é a principal banda independente do Brasil. Em que momento dessa história tão diferente vocês realmente perceberam que vocês haviam se profissionalizado?
Gabriel - Quando fechou o mês à gente pagou as contas todas! (Risos)

Eu imagino que com a ficha técnica que vocês tem, com o trabalho que vocês desenvolvem. Financeiramente os Autoramas já está em um caminho legal, não é?
Gabriel - Sim é totalmente viável. A gente faz um trabalho legal e vê as coisas acontecerem.

Então, se uma gravadora bater na porta não interessa?
Gabriel - Interessa sim, pelo seguinte: Primeiro, falarei bastante do nosso selo “Mondo 77”. A gente foi pra lá, fez uma série de exigências, eles toparam tudo com o maior carinho. Mas eles também sabem disso. A gente tem assessoria de imprensa, divulgador de rádio, tem uma distribuição legal, temos um empresário muito legal. Temos uma estrutura, uma pequena estrutura, mas tem e a gente é uma das bandas que mais faz show no Brasil. Agora, bicho, fazer um clipe que a gente tem que filmar tudo num dia porque o aluguel da câmera é caro demais e eles cobram por diária e o diretor vai sem ganhar um centavo só porque é nosso camarada, nosso amigo e se amarra na banda, quer que a gente se dê bem, ele acha que ter o nome ligado aos Autoramas é um ótimo negócio e que a gente vai dormir na casa dele depois de filmar cansado o dia inteiro... Quer dizer, não há dinheiro para pagar isso tudo, diretor, diária... Isso pra fazer um clipe. Coloco isso como exemplo. Já uma gravadora grande tem dinheiro pra tocar isso e a gente precisa de produção. A gente banca tudo, mas não em sentido monetário. A gente conta com o favor de um monte de gente que se amarra, curte e que acha a nossa história legal. Curte o som, esse tipo de coisa. Fazemos o seguinte: Quando temos um show em São Paulo, ficamos um dia a mais pra filmar o clipe. A gente vai fazer um programa de televisão, sempre chegamos um dia antes pra dormir, só pra fazer o lance de uma forma que se torne viável. Esse tipo de coisa é que a gente sente muita falta. É uma coisa que a gente cruza com outras bandas que estão com divulgador e não sei o quê... E a gente está ali na nossa humildade misturada com praticidade. E vamos fazendo as coisas. A gente inventou um novo modelo de trabalho e a gente quer que um dia a guerrilha acabe e possamos ter tempo de paz. (risos) Isso não significa uma gravadora, mas de repente uma empresa telefônica investir nos Autoramas em troca de notas fiscais. Pronto, resolveu o problema! Essa é que é a parada. É muito doido isso, eu adoraria! A gente não é contra as gravadoras. Muita gente acha isso só porque tomou uma atitude por nós mesmos, por isso muitos acham que somos contra as gravadoras e não é verdade! Ontem encontrei o Paulo Junqueira, gente finíssima, bati o maior papo, não tem dessa, imagina! Cada artista que eu gosto, sei o disco, nem sei muito bem em quais gravadoras ele desenvolveu a carreira. Outra coisa que muita gente acha dos Autoramas é que os nossos primeiros discos foram por uma major e não foi bem assim. Saiu por um selo que tinha distribuição, um apoio, e que não estávamos ali como artistas. Saia aquele disco da Universal dos lançamentos do mês, a nossa faixa era a 29! Não era faixa um, dois ou três. É isso que rola. Chegamos a fazer um show no teatro que tem dentro da gravadora Universal para que os funcionários conhecessem a banda! A gente nunca teve regalias, a gente só se esforçou, mas isso é legal porque a gente tem uma carreira e sabe como as coisas funcionam.

Bacalhau - Temos uma carreira sólida. Esse é o quarto disco de inéditas, tem três coletâneas, sendo uma lançada no Japão, uma na Argentina, uma no mercado brasileiro. Temos o compacto que lançamos na Europa, fora à possibilidade da lançarmos um disco cheio Europa. Acho que será nosso próximo passo.

Gabriel - Agora, ser independente tem essa liberdade, como o Bacalhau está falando. A gente não depende do resultado de uma reunião onde o cara diz que não vai lançar o trabalho na Argentina e ponto e, temos que obedecer. E se você perguntar porque, eles nem argumentam. É engraçado, por exemplo, que o Raimundos é uma banda cultuada na Argentina e não tem um disco lançado por lá! Eles decidiram não lançar Raimundos lá e pronto, acabou e babau... E vai fazer seu show lá em Bragança Paulista!

Então vocês se dão bem no mercado independente?
Gabriel - Não é que nós nos damos bem no mercado independente, porque não existe mercado independente. A gente fez o nosso mercado, e se o nome disso é independente eu não sei. A gente tem um circuito de show no Brasil hoje que os Autoramas foi à primeira banda a ir lá. Um cara de uma banda, uma produtora de um estado mais longe teve confiança de chamar os Autoramas e aí foram chamando outras bandas. Outras bandas hoje estão em um circuito que a gente inaugurou. Todos esses festivais que tem pelo Brasil, a primeira banda foi os Autoramas. Não é mole ser deadline em um festival! As pessoas falam em renovação no rock, mas no meio independente também não há essa renovação não, de aparecerem bandas com cacife pra ficar lotando festival pelo Brasil. Não tem, não apareceu. E o que acontece é isso. Há dez anos isso era inexistente, e ainda tem gente acha que ser independente é ser amador, que é sinônimo de demo, mas vou fazer o quê? Roberto Carlos também passou por isso, sofreu preconceitos de gente que não sabia nada. Aliás, acho nossa história muito parecida com a do Roberto Carlos por causa disso também. O Roberto queria tocar bossa nova achou que ia se encaixar no negócio, não deu certo. Na hora que ele foi fazer o lance dele é que ele se deu bem. Batemos em portas de gravadoras, não deu, e quando a gente fez do nosso jeito, foi quando nos demos bem. É isso que rola! Existe muita gente que ainda torce o nariz pra essa coisa do independente. A coisa que mais ouço é: Vocês ainda são independentes? A pessoa que faz esse tipo de pergunta, eu já rotulo com um carimbo na testa dela assim: (Poin)! Está por fora!

Ser chamado de “A maior banda independente” é bom?
Gabriel – Lógico! A gente chega no Chile, por exemplo, e ouve anunciar na rádio: Hoje, ao vivo, Autoramas, a maior banda independente do Brasil.

Bacalhau – Eu lembro da primeira vez que fomos tocar no Uruguai quando fomos fazer divulgação, os caras de lá, achavam que rock no Brasil nem existia mais! A última coisa que eles ouviram falar de rock lá foi Paralamas e depois Cássia Eller, mas passa! Chega lá, mas não fica, não tem uma tradição.

Gabriel - O Brasil tem tradição de rock, mas a mídia não está interessada, ou é uma pilha de saber trabalhar... Também tem o lance de uma banda de rock de repente fazer uma coisa meio que farofa e querer que neguinho compre isso como uma banda de rock. Aí, realmente...


Publicada originalmente no International Magazine (capa) edição, 136, de setembro de 2007.

novembro 09, 2007

Gal Costa

Gal Costa é consagrada, mais uma vez, como diva no exterior

Cantora lança disco gravado na renomada casa nova-iorquina
Blue Note


Não lançar Gal Costa “Live at The Blue Note” seria um desperdício! Um álbum fantástico de Gal, gravado ao vivo em 19 de maio 2006 (quarto dos seis shows) no Blue Note, um dos templos do jazz em Nova York, gravado pelo selo DRG. O lançamento é da LGK Music que foi licenciada pela DRG, com distribuição da EMI Music.

Aos 62 anos de idade e mais de 40 de carreira, a cantora Gal Costa continua mais ativa do que nunca. É com esse gás que Gal lança no Brasil “Live at The Blue Note” confirmando o porquê dos norte-americanos serem fascinados pela sua voz

Com Jurim Moreira na bateria, Marcus Teixeira no violão, Adriano Giffoni no baixo acústico e Zé Canuto no sax soprano e flauta, um quarteto pra ninguém colocar defeito, e Gal com sua voz deixa o público extasiado. O repertório traz 17 músicas com releituras dos grandes clássicos da bossa nova, de compositores de primeira linha como Tom Jobim, Ari Barroso, Herivelto Martins, Carlos Lyra, Dorival Caymmi e Vinicius de Moraes, dentre outros.

Ela interpreta dezessete preciosidades musicais, dentre elas "Desafinado" (Tom Jobim/Newton Mendonça), "Chega de Saudade" (Tom Jobim/Vinícius de Moraes), "Corcovado", “Samba do avião”, “Triste”, "Fotografia" e "Wave" de (Tom Jobim), "Garota de Ipanema" (Tom Jobim/ Vinícius de Moraes), “Nada além” (Mario Lago/Custódio Mesquita), “Coisa linda” (Carlos Lyra/Vinícius de Moraes).

“Aquarela do Brasil”, “Camisa amarela” e “Pra machucar meu coração”, todas do lendário Ary Barroso.

De Dorival Caymmi e Carlos Guinle “Sábado em Copacabana” e segue com João de Barro e Alberto Ribeiro em “Copacabana”.Gal interpreta também "I Fall in Love Too Easily", de Chet Baker, e "As Time Goes By", o tema de "Casablanca".
Nem precisa falar mais. Então, deixo aqui as palavras do jornalista do New York Times, Bem Ratliff que escreveu a crítica que está no encarte do disco. “Gal Costa dominou fácil e alegremente a música, num espetáculo tranqüilo e catártico”.

A verdade é o seguinte: Quem uma vez é diva, nunca deixar de ser.

novembro 07, 2007

Nação Zumbi


Nação Zumbi, banda pernambucana que apareceu com total destaque no cenário musical a partir do movimento manguebeat, na década de 90, onde o destaque principal era o cantor e compositor Chico Science. Com ele, a Nação Zumbi gravou dois discos, "Da Lama ao Caos" (1994) e "Afrociberdelia" (1996). Com eles conquistaram a fama no Brasil e excursionaram no exterior. Alguns dos maiores sucessos foram "Rios, Pontes e Overdrives", "A Cidade", "Da Lama ao Caos", "Macô", "Corpo de Lama" e a versão para "Maracatu Atômico", de Jorge Mautner e Nelson Jacobina, grande sucesso na voz de Gilberto Gil na década de 70. Depois do falecimento de Chico Science, em acidente de automóvel em 1997, os integrantes da Nação Zumbi continuaram o trabalho, lançando em 1998 o álbum duplo "CSNZ" (ainda com o nome do ex-líder), incluindo um disco de músicas inéditas e ao vivo e lançou também outro só de remixes. Em 2000 o grupo gravou "Rádio S.AMB.A" (YBrazil?), conseguindo êxito com "Quando a Maré Encher", mostrando a capacidade de sobrevivência sem Chico Science. Jorge Du Peixe assumiu a voz, acompanhado pelos demais integrantes: Lúcio Maia (guitarra), Alexandre Dengue (baixo), Toca Ogam (percussão), Gilmar Bolla 8 (percussão) e Pupilo (bateria).

Em 2002, a banda é contratada pela gravadora Trama e lança seu disco homônimo, “Nação Zumbi”. Com canções poderosas como "Meu Maracatu Pesa Uma Tonelada”, neste disco a banda se firma como a mais importante banda da cena independente brasileira, em atividade. Em 2005, Nação Zumbi volta à ativa com “Futura”, seu sexto álbum. Um disco que flerta com a música regional, aposta em experimentações e texturas eletrônicas, coloca os tambores de maracatu em segundo plano e ousa fazer novos vôos. São 12 faixas, contando ainda com músicos convidados como Mauricio Takara, do Hurtmold, e de Fernando Catatau, do Cidadão Instigado.

Em tempo, a Nação Zumbi lança está lançando seu sétimo disco ''Fome de Tudo'' o primeiro pela gravadora Deckdisc. Produzido por Mario Caldato, o álbum tem a fome como tema principal, não apenas a da privação do alimento, mas a fome de ter uma vida digna e a fome de conquistar e de consumir passando por cima de tudo e de todos.

A Nação é formado por Jorge Du Peixe (voz, sampler e percussão), Lúcio Maia (guitarra e programação), Dengue (baixo), Gilmar Bola 8 (percussão), Pupillo (bateria e programações) e Toca Ogan (percussão e voz). Em 31 de outubro de 2007, o vocalista e letrista da banda, Jorge Du Peixe concedeu uma entrevista. Acompanhe o bate-papo a seguir.

- O que vem de novo em “Fome de Tudo”?
- Sétimo disco, gravadora nova! A Deckdisc mostrou novas possibilidades e nos ofereceu uma infra-estrutura maior. Já estava na hora de mudar!

- Quantos discos foram lançados pela outra gravadora?
- Fizemos dois discos. Este é o primeiro pela Deckdisc e está tudo indo muito tranqüilo. O pessoal da gravadora começou conversar com agente um diálogo muito transparente sem nenhuma imposição, sem meter a mão no processo criativo, que é o ponto alto.

- Como foi feita a seleção de repertório? É todo inédito?
- Totalmente inédito e autoral, contamos com algumas participações.
Essa é a segunda vez que acontece, com agente, de assinar um contrato sem mostrar nenhuma música. Aconteceu com a Trama e na Deck, não tínhamos nada pronto para mostrar e eles confiaram na idéia. Depois de um tempo fizemos a pré-produção, mas nada convencionado e nada finalizado, somente uma idéia do que poderia ser. Assinamos contrato e colocamos a mão na massa. Gravamos doze músicas, sendo que seis gravamos no estúdio da Deckdisc no Rio de Janeiro e o restante foi feito em São Paulo no estúdio YB. Foram 12 canções gravadas em nove dias. Percussão e tambores em um dia, as vozes levaram seis dias e as bases foram feitas pelo Mario, depois, porque, ele tinha um trabalho exterior. Fiquei em casa no computador e microfone pra poder maturar melhor a coisa. Esse disco vem mais cantado porque as harmonias pediram isso e porque não fazer um pouco mais de melodia no disco? Foi o que fizemos! Às vezes pensamos que estamos com controle total e acaba desandando para outros caminhos .... Então, fizemos o que o disco pediu!

- Você é letrista da banda. Todos colaboram?
- Sou letrista, músico... As opiniões são importantes! Todos sugerem, todos acabam mostrando isso ou aquilo outro... Um batuque aqui outro ali, um baixo diferente... Este disco nasceu basicamente em Recife. Alugamos um estúdio, em janeiro, por dois dias e registramos todos os ensaios para depois ouvir em todas as dimensões e escolher o que seria usado. Por tanto, este disco nasceu, a partir, em Recife!

- Qual o diferencial dos trabalhos anteriores para "Fome de Tudo"?
- A diferença é perceptível logo de cara para quem conhece os discos anteriores. “Fome de Tudo” está muito mais melódico, me desvencilhei um pouco das letras enormes, hiper texto O disco é mais falado e tentei levar mais para o lado melódico. O Mario teve participação como um todo no disco, desde a capitação... Até a arte gráfica ele gostou muito. Foi muito bom trabalhar com Mario, um cara muito tranqüilo que em momento algum quis desvirtuar ou levar para outro caminho, sempre teve boas idéias quando colocou a mão.

- Fale das participações especiais?
- Tem a participação de uma moça chamada Inferno que, ironicamente, faz participação na música “Céu”. O Junio Barreto, um conterrâneo nosso participou como cantor e dividiu a composição em “Toda Surdez Será Castigada”. O Rodrigo Branão de uma banda de hip-hop de São Paulo, dividiu comigo a letra de “Originais do Sonho”, o Lucas Raeli – trabalhou com Paulinho da Viola, Chico Buarque... Fez os arranjos de cordas na canção “No Olimpo”.

- A formação da banda é a mesma desde o início?
- A única diferença é que éramos em oito. O Chico Science faleceu em 1997, o Gira saiu e agora somos em oito, contando com dois músicos contratados, que são de casa.

- Sem o Chico Science na banda, como você encarou isso?
- A prova foi á credibilidade a médio e longo prazo, para eu me dedicar naturalmente para isso. Fomos moldando aos poucos até chegar o que faço hoje. É difícil encarar tudo isso. Eu tenho uma voz similar á dele. Cheguei a ficar travado no palco porque sempre olhava e vinha ele em minha cabeça. Ele era meu amigo de adolescência, de sair pra comprar disco de vinil em sebo...