abril 15, 2009

A voz da hora!

Pintando e Bordando’ é o segundo disco da cantora, cearense, Lúcia Menezes com produção de José Milton e arranjos de Cristovão Bastos e João Lyra. Neste CD Lucia expõe a diversidade de estilos em canções onde a unidade é a sua voz e interpretação. Lúcia Menezes pesquisou o repertório por dois anos para concretizar o disco. Aglutinou canções antigas e novas que são representativas e recém descobertas. Com jeito peculiar de interpretar e personalidade total, a cantora vem mostrar para o público, maior, agora para o país inteiro, porque foi considerada uma promessa que virou realidade. Lúcia está pronta para despontar no Brasil e mundo afora. O interessante é que, ao escutar a sua voz, você a identifica como Lúcia Menezes. Digo isso porque, atualmente, existe várias cantoras que não se consegue, através de audição, identificá-las chegando a confundi-las com diferentes vozes. Uma parece Gal Costa, outra Ivete Sangalo, outra Ana Carolina... No caso dela não se aplica. Com sua voz, única, Lúcia vai longe! Em conversa, pude fazer algumas perguntas para conhecer um pouco do seu novo trabalho e carreira. Veja o que ela falou.

Por Elias Nogueira


- Seleção de repertório durou mais de dois anos para ser concretizado. O que mais deu trabalho na escolha?
- O mais difícil foi escolher só 14 músicas para entrar no disco. A princípio, nós tínhamos 90 preferidas, então, você imagina quantas músicas ficaram de fora e como foi difícil selecioná-las! Dava para fazer mais uma porção de discos.

- Ficaram faixas de fora, que você gostaria que estivessem incluídas?
- Sim, claro, algumas, ou melhor, dizendo, muitas! Se citar todas nem caberia neste espaço. Algumas eu espero ainda gravar em outros discos.

- Vejo que as composições, do seu disco, são de nomes consagrados. Você teve autorização pessoal de cada um deles? Eles escutaram a sua versão? Opinaram?
- Não, com esses arranjadores, esse estúdio e o José Milton. Não precisamos.

- Quanto tempo você tem de carreira?
- Canto profissionalmente desde 1988, quando ganhei o Festival de Camocim, no Ceará. Entretanto, quem gosta de cantar não espera muito. Aos três anos participei e ganhei um prêmio, "Melhor voz infantil" de Itapipoca - onde nasci. Nesse concurso fui inscrita pela minha mãe, era produção da Radiadora de lá - espécie de rádio comunitária. Cantei em corais, participei da Ópera Nordestina, que só apresentou dois atos por falta de recursos financeiros. Enfim, sempre cantei!

- Pode falar dos outros trabalhos?
- Antes desses dois álbuns, que considero mais profissionais porque foram lançados via gravadoras e com distribuição nacional - Kuarup no primeiro e este pela Som Livre. Fiz três discos independentes no Ceará que ficaram com distribuição somente no Estado – Divina comédia humana de 1991 em vinil, Lucinha Menezes ao vivo com repertório da Carmen Miranda em 1996 e Lúcia Menezes de 2005.


- Produzido por José Milton e arranjos com a assinatura de Cristovão Bastos e João Lyra. Como foi trabalhar com eles?
- Já havia gravado com eles no disco Lúcia Menezes que fiz em 2005. São maravilhosos, grandes profissionais e pessoas lindas! Gostaria sempre de trabalhar com eles. O José Milton é meu Mago!

- Sendo o segundo disco, qual o diferencial para o primeiro?
- No que se refere à qualidade e repertório acho que está parecido. No sentido de bem trabalhado, bem gravado, bem arranjado, e bem produzido. Nas relações pessoais foi muito melhor, pois com o tempo, ganhamos confiança e liberdade mútua. Agora, já somos amigos!

- Rio, São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte.... Haverá shows de lançamento?
- Faremos shows no Rio ainda em abril, se Deus quiser! São Paulo, logo a seguir. No Rio de Janeiro temos marcados dois pocket shows - 30 de abril na Livraria Saraiva do Shopping Rio Sul e no dia 15 de junho na Modern Sound. Mas estamos fechando também temporada em outros lugares, para um público maior. Fortaleza, minha cidade, será logo depois, seguida de Curitiba, Belo Horizonte e Brasília.



Faixa a faixa

Presente de Iemanjá (João Lyra / Paulo César Pinheiro) - canção inédita feita especialmente para o disco, traz o ritmo indígena toré – cantos sagrados que desenvolve nos índios o amor, a união e a força para sustentar sua cultura.

Chazinho com biscoito (Vander Lee) - Lúcia ouviu este samba no disco do próprio Vander, se identificou logo com ele e aprendeu a cantar sem compromisso. Sua interpretação remete à melhor escola de Carmem Miranda.

Estátua da paciência (Noel Rosa / Jerônimo Cabral) - o fox trote pouco conhecido de Noel Rosa e Jerônimo Cabral é, segundo Lúcia, musicalmente diferente de tudo que Noel fez, mas a letra tem tudo a ver com ele. Foi gravada uma única vez pelo grupo Coisas Nossas na coleção completa de sua obra lançada pela gravadora Velas em 1983, onde a cantora a descobriu.

Os grilos são astros (Rosinha de Valença) - uma canção lenta com influências rurais que traz a delicadeza na música e na letra. É bastante conhecida pela interpretação da própria Rosinha.

Terral (Ednardo) - esta canção com acentos do maracatu cearense remete à Lúcia o sentimento de saudade do Ceará, sua terra natal. O filho Artur Menezes, também cearense e músico, participa tocando guitarra.

Uva de caminhão (Assis Valente) - samba bem conhecido na interpretação de Carmem Miranda. E, como Lúcia é apaixonada por Carmem e por Assis Valente, recheia o disco com charme e graciosidade.

Menino de roça (João Bá / Dercio Marques) - este baião só foi gravado por João Bá e apresentado a Lúcia pelo próprio autor.

Nem ouro, nem prata (Ruy Maurity / José Jorge J.B. de Carvalho / Júlio José do Nascimento) – o ponto de terreiro é recordação de adolescência de Lúcia. Quando o redescobriu num disco de Ruy Maurity encontrado como raridade num sebo, a música lhe voltou à memória com muita alegria.

Palavra doce (Mario Travassos) - este samba, gravado por Mario Reis em 1963, já estava completamente esquecido e foi trazido para o disco por José Milton. Sua gravação só foi possível após a única sobrinha do autor registrar a música e liberá-la.

No cordão da saideira (Edu Lobo) - o frevo de bloco tem o sabor do início da adolescência em Fortaleza e lembra Nara Leão, outra paixão de Lúcia, que o gravou tão lindamente.

Samba do grande amor (Chico Buarque) - este samba a enlouqueceu desde que ouviu pela primeira vez e escolheu porque estava bem próxima dele no momento da definição do repertório. Já foi gravado por grandes intérpretes da MPB, cada um com uma interpretação própria e marcante.

Mangaratiba (Luiz Gonzaga / Humberto Teixeira) - xote que fez muito sucesso no Ceará e era bem conhecido de toda a família. Hoje, morando no Rio de Janeiro, Lúcia passa alguns fins-de-semana no município de Mangaratiba, próximo à capital. Gravou-o em homenagem aos vários amigos que encontrou por lá.

Viola cantadora (Marcelo Tupynambá) - esta cantiga de viola é outra música que Lúcia canta desde criança, quando faltava energia em Fortaleza e, então, a família se reunia na varanda e rolava a cantoria.

Os profissionais (Belchior) - um rock com levada country tão importante nos anos 60, que, 40 anos depois, ainda faz um resumo daquele movimento. O filho Artur Menezes participa novamente com o violão slide e a guitarra brincando entre eles.


Fotos: Leonardo Aversa

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