julho 01, 2008

Detonautas - O Retorno de Saturno

Detonautas reaparece com melhor disco de carreira

Roqueiros cariocas mudam de gravadora e lançam “O Retorno de Saturno”

Lançando seu quarto álbum “O Retorno de Saturno”, primeiro pela Sony-BMG (Os antecedentes saíram pela Warner), e o primeiro sem o guitarrista Rodrigo Netto que foi vítima da violência urbana, o quinteto carioca, Tico Santa Cruz (vocal), Cléston (DJ e percussão), Renato Rocha (guitarra), Tchello (baixo) e Fábio Brásil (bateria), demonstram mais maturidade devido à experiência que vem adquirindo desde que lançou o primeiro disco em 2002. Com canções menos pesadas, letras bem definidas e acertando o alvo que é proposto, os Detonautas Roque Clube vem confirmar que o melhor disco de sua carreira é “O Retorno de Saturno” que vêm recheados de canções que tem potencial para se tornarem sucessos como a faixa título, O Retorno de Saturno e Nada É Sempre Igual. Em entrevista para o INTERNATIONAL MAGAZINE – o cantor, compositor e também guitarrista Tico Santa cruz, pode falar sobre como foi concebido o disco e outras coisas interessantes.

Por Elias Nogueira

- Fale do "Retorno de Saturno". Quando tempo durou para ficar pronto?
- Comecei a compor, estas, canções em 2007, mais precisamente em janeiro quando fui para Trancoso na Bahia fazer um retiro. Levei o violão sem imaginar que algo pudesse sair. Quando as músicas começaram a tomar forma, as gravei na secretária eletrônica do meu celular. Depois que voltei para o Rio de Janeiro mostrei pra banda e fizemos uns ensaios só com violão e piano. Soou tudo muito bonito e não foi preciso pensar muito para concluir que esse seria o clima do disco. Quando entramos para gravar, no fim do mesmo ano, fizemos tudo muito rapidamente devido à simplicidade a qual estávamos dispostos a conceber o trabalho. Ao todo um ano e quatro meses.

- O Fernando Magalhães mais uma vez esteve com vocês.
- O Fernandão é um querido. Nosso parceiro desde o princípio. Além dele o Tomás Magno, também, foi o produtor e assinamos todos juntos, pois o trabalho fora exatamente dessa forma. Em alguns momentos ficávamos sozinhos, em outros, com na companhia de um deles e em outros juntos. Isso deu uma diversidade e uma liberdade para interpretarmos com o sentimento mais sincero possível e tendo duas pessoas observando e nos ajudando com seu olhar distanciado. Fernando fez o Baixo de "Soldados de chumbo" incluiu algumas guitarras que tem uma personalidade incrível e junto com o Renato e o Tomás tirou altos sons dos instrumentos que escolhemos. É uma parceria que sempre deu frutos.

- Seleção de repertório. Como foi feito?
- Das 14 músicas, que fiz em Trancoso, 11 entraram no disco. Fizemos ainda um no estúdio ao longo dos ensaios e compôs como conteúdo digital. Vai ser disponibilizado para o público em breve. Nós sabíamos o tempo todo o que queríamos então foi entrar e ser objetivo.

- Inspiração para compor. Continua como antes?
- A inspiração é algo inexplicável, porém quando estás com tua imaginação e teu vocabulário em constante exercício fica bem mais fácil de expressá-la no papel e em melodias. Tenho lido muito de seis anos para cá e isso fez com que conseguisse materializar idéias que antes só conseguia expressar em textos. Sei que ainda preciso amadurecer muita coisa, mas tenho consciência de que estou no caminho certo.

- Foi difícil fazer o novo trabalho com ausência do Rodrigo Netto?
- Sem dúvida. A ausência dele como pessoa, compositor, criador e amigo deixa um buraco na alma e esse buraco só pode ser preenchido trazendo sua energia para o dia a dia. Na verdade ele só esteve ausente fisicamente, pois sentimos a presença dele e isso se reflete nas letras e canções.

- No disco a banda está com rock com menos peso. É efeito da perda do amigo?
- Não sei se é efeito. Creio que o que vivemos pós a perda violenta do Netto nos conduziu para esse lugar. Nossos discos são fases claras da banda, não nos interessa repetir formular e fazer cover de nós mesmos. Queremos sempre experimentar e o natural foi que as coisas levassem a sonoridade para onde foi.
- Em shows haverá necessidade de outro guitarrista?
- Embora eu esteja tocando violão e guitarra o Phelipe - que era roadie do Netto - assumiu uma das guitarras, pois o que ele fazia era tão importante que não havia uma forma de simplesmente ignorar e passar a trabalhar com um guitarrista a menos.

- Você, atualmente, passa para o público, que não é somente cantor de uma banda de rock, mas uma pessoa que se preocupa com as causas sociais. Isso se deu após o desaparecimento do Rodrigo Netto ou você sempre foi engajado politicamente?
- Para quem só me conheceu depois da tragédia pode ser. Porém basta pesquisar, vasculhar minha vida, assistir a shows antigos e ao próprio DVD para desfazer tal engano. Não tenho como controlar a opinião alheia, mas é fato que a mídia abriu mais espaço para que eu pudesse introduzir alguns temas que antes ficavam restritos a apresentações e blogs.

Faixa a faixa

01 - O retorno de Saturno
- Um lindo final de tarde cor de rosa no Arpoador - RJ

02 - Nada é sempre igual
- Confessional

03 - Verdades do mundo
- Dedicada ao Netto

04 - Só pelo bem querer
- Minha maneira de enxergar o relacionamento homem e mulher sem envolver o amor romântico que é vendido pelas novelas. É estar com alguém por que se quer e não por um compromisso social, moral ou religioso.

05 - Lógica
- Primeira canção que escrevi, também, para o Rodrigo. Tive muitos sonhos com ele.

06 - Tanto faz
- Confessional.

07 - Oração do horizonte
- Representa tudo que falo nos protestos contra a violência.

08 - Soldados de chumbo
- Uma cantiga de ninar com uma letra ácida.

09 - Ensaio sobre a cegueira
- Além de ser uma homenagem ao Saramago por quem sou altamente influenciado, é uma forma de aguçar a curiosidade dos fãs com a literatura. Se os rappers americanos ostentam carrões, jóias e mulheres, nós queremos divulgar um universo diferente: a literatura.

10 - Enquanto houver
- Tem endereço certo.

11 - Eu vou vomitar em você
- Muito intelectual, de butique e de botequim, se identificará com essa canção. Muita gente vai vestir a carapuça.
ENTREVISTA PUBLICADA ORIGINALMENTE NO INTERNATIONAL MAGAZINE EDIÇÃO 142 - ABRIL DE 2008

Um comentário:

Anônimo disse...

NOTA MIL!!! PARABÉNS PELA ENTREVISTA!

João Ferreira