Em coletiva on-line - 20 de setembro de 2007- Pitty falou sobre seu novo trabalho, o CD/DVD {Dês}concerto vivo (Deckdisc). O disco traz a show da turnê “Anacrônico”, nome do álbum mais recente da roqueira baiana, lançado há pouco mais de dois anos. Veja os melhores momentos da coletiva.
Identidade Pitty.
- Cem por cento. Tudo que acontece no meu trabalho é feito na questão de parcerias. Se eu chamo a Joana - Mazzucchelli, diretora- pra dirigir esse DVD, tudo parte do principio de sentar e conversar pra ver como vai ser. ela tem a assinatura e jeito próprio de dirigi. Eu tenho também o meu conceito e agente precisa conciliar essas duas coisas. Desde o principio agente trocou muita idéia, viu referencias juntas, trocamos vídeos. Eu não conseguiria fazer nada na minha vida se não fosse assim.
Mistério.
- Existe um mistério mesmo, sempre fui atraída pelas sombras e sempre gostei muito desse conceito. E todas as bandas que eu gosto carregam isso. Existe muito mais mistério nisso, pensar que você viu… interpretar uma imagem. Eu me sinto mais confortável no escuro, mais protegida.
Auge.
- Se é auge eu não sei. Acho que auge é uma coisa que passa… não sei o que é auge. A gente resolveu fazer esse DVD agora pra suprir uma necessidade de fechar um ciclo. Estamos vindo de dois discos, uma turnê de cinco anos que praticamente emendou a primeira com a segunda sem parar. É óbvio que eu já penso em fazer o terceiro disco, mas me deu essa sensação que pra fazer esse terceiro disco e também, precisava dar uma reclicada. Quero ter um tempo de ócio pra poder “armazenar munição”. Ler mais livros, ouvir novas músicas, criar coisas novas. Dá pânico só de pensar que eu posso continuar repetindo o que eu já fiz só porque deu certo.
Sem convidados especiais.
- Não chamei ninguém porque é o primeiro da banda. Eu achei que tinha que ser só a gente mesmo, tocando as nossas músicas, sem cover nem nada. Eu queria que as pessoas vissem o show como ele é.
Novo som.
- Música é um aprendizado. Quando eu gravei o primeiro disco era a primeira vez que eu entrava num estúdio pra fazer um lance profissional. O que eu contava era com a experiência das pessoas que estavam comigo. Ao longo desse tempo, além da experiência dessa galera, a gente vai somando a nossa pegada de já entrar sabendo o que vai fazer. Quando eu faço música eu não penso nisso de “formato”. A entrada do Martin (guitarra) na banda tem a ver com isso também.
A novidade fica por conta de duas novas canções no repertório.
Influenciar seus fãs.
- Eu não sei por que partem do principio que artista é educador, que a gente tem de ser didático. A gente não tem que ser didático. A gente tem que se expressar. No caso de “Pulsos”, essa coisa de cortar os pulsos no final como uma saída de emergência é uma metáfora. Isso pode ser interpretado em milhões de formas. Se você desiste de alguma coisa você às vezes diz “vou ali cortar os pulsos e já volto”. As pessoas precisam ir além da superficialidade e interpretar as coisas de uma forma mais profunda. E não só as músicas, mas também os livros que elas lêem e os programas que elas assistem.
DVD fora dos padrões atuais.
- Queríamos que o produto final fosse independente no sentido que a gente tivesse liberdade pra fazer do nosso jeito. Em termos estéticos, sonoros. Tinha que ser nosso.
DVD/CD ao vivo após, apenas, dois.
- Enquanto as pessoas estão pensando em “apenas” dois discos eu já estou pensando em “já” dois discos. Hoje em dia tudo é muito mais rápido e as pessoas aqui no Brasil estão presas a uma mentalidade que não entendo. Elas pensam que gravar DVD ao vivo é uma tábua de salvação para uma banda que está decadente. Isso talvez seja por causa dessa leva de DVD´s ao vivo e acústicos. Às vezes, a banda nem existe mais e faz acústico. Eu acho que isso deixou o público com uma má impressão do formato. Enquanto isso, lá fora, toda banda fodona e no auge encerra a turnê com DVD. Por conta desse pensamento que eu consegui ver a última turnê do Muse, do Queens of the Stone Age.
As canções preferidas - ao vivo.
- Eu gostei muito de “Ignorin´U”. Adorei também “Na sua estante”. “Pulsos” ficou legal, levando em consideração que é uma música nova e a gente ainda tava testando ela em alguns shows.
Referências.
- Uma referência: Tive a oportunidade de ver ao vivo, naquele esquema bem noir, o show do Nine Inch Nails no Brasil. O clima do show dos caras é um absurdo. É só luz de contra. Por mim, eu faria um show inteiro só com luz de contra. Mas aí já é “The Cure” demais. Eu gosto muito desse estilo Bauhaus.
Crise do mercado fonográfico.
- Quando assinei com a Deckdisc, a coisa já era muito diferente do que a gente ouvia falar. Assinou com a gravadora? Vai ter limusine na porta, banho de champagne, rockstar… isso não existe. Você precisa coordenar melhor às coisas e agir de acordo com o que você tem. Na Deck, a galera tem a mentalidade de independente, embora tenha um poder de fogo um pouco maior. E isso é muito bacana porque você vai fazendo as coisas conforme o resultado. Você não viaja em coisas astronômicas. Eu não sei o que vai acontecer com o mercado. O que sei é que: Vou continuar fazendo música e me adaptando as circunstâncias que aparecerem. Chegamos a pensar esse DVD em pen drive. Buscamos sempre alternativas novas.
Relação com fãs.- O contato acontece mais pela internet. Existem listas de discussão sobre a banda no site, onde tem um blog também. Pro DVD a gente criou um site para facilitar a vida dos fãs que queriam participar da gravação. Disponibilizamos “Pulsos” no site.
Experiência desse período.
- Fico feliz de olhar para trás e ver que todas as escolhas que fizemos por mais arriscadas que fossem, mas deram certo. Fizemos coisas, que teoricamente, não era pra fazer. O primeiro single da banda, Poe exemplo, era uma música de cinco minutos com parte em inglês. Loucura! Tenho muito orgulho das coisas que a gente fez.
Interpretação da mídia.
- Tem uma galera que não se deixa levar por essa coisa meio - adolescente e cult - de meter o pau no que está dando certo. Se tocar no rádio, é ruim. Legal é o Klaxons? E tem outra linha que já pensa: Gostando ou não, o trabalho daquela pessoa está rolando. Qualquer pessoa tem o direito de não gostar. O que acho chato é quando a pessoa é leviana, quando não tem embasamento nenhum pra falar.
30 anos, mas permanece no universo típico pós-adolescente.
- Claro! Minha idade mental é de 13 anos! Eu não faço música pensando em quem vai me ouvir. Pode ser um moleque de 15 ou um cara de 45 anos de idade. Eu faço música para expressar o que eu sinto e penso. Um paradigma que existe e é difícil de ser quebrado é o seguinte: O rock é tipicamente uma música jovem. O fato de se convencionar que o rock é uma música de adolescente acaba afastando um monte de adulto. Se alguém diz “Você ouve Pitty? Música de criança né?”. A pessoa já pensa que pode não gostar. Adulto tem que gostar de Burt Bacharach ou qualquer coisa cult.
- Carreira internacional.
- Já tocamos duas vezes em Portugal, fizemos dois shows no Japão e agora estamos indo para Buenos Aires fazer dois shows. Nunca fizemos projeções internacionais. Sempre fizemos a coisa passo a passo. Se rolar a oportunidade de lançar o disco por algum selo em outro país, legal.
Publicado na jornal International Magazine (capa) edição 138, novembro de 2007.
Identidade Pitty.
- Cem por cento. Tudo que acontece no meu trabalho é feito na questão de parcerias. Se eu chamo a Joana - Mazzucchelli, diretora- pra dirigir esse DVD, tudo parte do principio de sentar e conversar pra ver como vai ser. ela tem a assinatura e jeito próprio de dirigi. Eu tenho também o meu conceito e agente precisa conciliar essas duas coisas. Desde o principio agente trocou muita idéia, viu referencias juntas, trocamos vídeos. Eu não conseguiria fazer nada na minha vida se não fosse assim.
Mistério.
- Existe um mistério mesmo, sempre fui atraída pelas sombras e sempre gostei muito desse conceito. E todas as bandas que eu gosto carregam isso. Existe muito mais mistério nisso, pensar que você viu… interpretar uma imagem. Eu me sinto mais confortável no escuro, mais protegida.
Auge.
- Se é auge eu não sei. Acho que auge é uma coisa que passa… não sei o que é auge. A gente resolveu fazer esse DVD agora pra suprir uma necessidade de fechar um ciclo. Estamos vindo de dois discos, uma turnê de cinco anos que praticamente emendou a primeira com a segunda sem parar. É óbvio que eu já penso em fazer o terceiro disco, mas me deu essa sensação que pra fazer esse terceiro disco e também, precisava dar uma reclicada. Quero ter um tempo de ócio pra poder “armazenar munição”. Ler mais livros, ouvir novas músicas, criar coisas novas. Dá pânico só de pensar que eu posso continuar repetindo o que eu já fiz só porque deu certo.
Sem convidados especiais.
- Não chamei ninguém porque é o primeiro da banda. Eu achei que tinha que ser só a gente mesmo, tocando as nossas músicas, sem cover nem nada. Eu queria que as pessoas vissem o show como ele é.
Novo som.
- Música é um aprendizado. Quando eu gravei o primeiro disco era a primeira vez que eu entrava num estúdio pra fazer um lance profissional. O que eu contava era com a experiência das pessoas que estavam comigo. Ao longo desse tempo, além da experiência dessa galera, a gente vai somando a nossa pegada de já entrar sabendo o que vai fazer. Quando eu faço música eu não penso nisso de “formato”. A entrada do Martin (guitarra) na banda tem a ver com isso também.
A novidade fica por conta de duas novas canções no repertório.
Influenciar seus fãs.
- Eu não sei por que partem do principio que artista é educador, que a gente tem de ser didático. A gente não tem que ser didático. A gente tem que se expressar. No caso de “Pulsos”, essa coisa de cortar os pulsos no final como uma saída de emergência é uma metáfora. Isso pode ser interpretado em milhões de formas. Se você desiste de alguma coisa você às vezes diz “vou ali cortar os pulsos e já volto”. As pessoas precisam ir além da superficialidade e interpretar as coisas de uma forma mais profunda. E não só as músicas, mas também os livros que elas lêem e os programas que elas assistem.
DVD fora dos padrões atuais.
- Queríamos que o produto final fosse independente no sentido que a gente tivesse liberdade pra fazer do nosso jeito. Em termos estéticos, sonoros. Tinha que ser nosso.
DVD/CD ao vivo após, apenas, dois.
- Enquanto as pessoas estão pensando em “apenas” dois discos eu já estou pensando em “já” dois discos. Hoje em dia tudo é muito mais rápido e as pessoas aqui no Brasil estão presas a uma mentalidade que não entendo. Elas pensam que gravar DVD ao vivo é uma tábua de salvação para uma banda que está decadente. Isso talvez seja por causa dessa leva de DVD´s ao vivo e acústicos. Às vezes, a banda nem existe mais e faz acústico. Eu acho que isso deixou o público com uma má impressão do formato. Enquanto isso, lá fora, toda banda fodona e no auge encerra a turnê com DVD. Por conta desse pensamento que eu consegui ver a última turnê do Muse, do Queens of the Stone Age.
As canções preferidas - ao vivo.
- Eu gostei muito de “Ignorin´U”. Adorei também “Na sua estante”. “Pulsos” ficou legal, levando em consideração que é uma música nova e a gente ainda tava testando ela em alguns shows.
Referências.
- Uma referência: Tive a oportunidade de ver ao vivo, naquele esquema bem noir, o show do Nine Inch Nails no Brasil. O clima do show dos caras é um absurdo. É só luz de contra. Por mim, eu faria um show inteiro só com luz de contra. Mas aí já é “The Cure” demais. Eu gosto muito desse estilo Bauhaus.
Crise do mercado fonográfico.
- Quando assinei com a Deckdisc, a coisa já era muito diferente do que a gente ouvia falar. Assinou com a gravadora? Vai ter limusine na porta, banho de champagne, rockstar… isso não existe. Você precisa coordenar melhor às coisas e agir de acordo com o que você tem. Na Deck, a galera tem a mentalidade de independente, embora tenha um poder de fogo um pouco maior. E isso é muito bacana porque você vai fazendo as coisas conforme o resultado. Você não viaja em coisas astronômicas. Eu não sei o que vai acontecer com o mercado. O que sei é que: Vou continuar fazendo música e me adaptando as circunstâncias que aparecerem. Chegamos a pensar esse DVD em pen drive. Buscamos sempre alternativas novas.
Relação com fãs.- O contato acontece mais pela internet. Existem listas de discussão sobre a banda no site, onde tem um blog também. Pro DVD a gente criou um site para facilitar a vida dos fãs que queriam participar da gravação. Disponibilizamos “Pulsos” no site.
Experiência desse período.
- Fico feliz de olhar para trás e ver que todas as escolhas que fizemos por mais arriscadas que fossem, mas deram certo. Fizemos coisas, que teoricamente, não era pra fazer. O primeiro single da banda, Poe exemplo, era uma música de cinco minutos com parte em inglês. Loucura! Tenho muito orgulho das coisas que a gente fez.
Interpretação da mídia.
- Tem uma galera que não se deixa levar por essa coisa meio - adolescente e cult - de meter o pau no que está dando certo. Se tocar no rádio, é ruim. Legal é o Klaxons? E tem outra linha que já pensa: Gostando ou não, o trabalho daquela pessoa está rolando. Qualquer pessoa tem o direito de não gostar. O que acho chato é quando a pessoa é leviana, quando não tem embasamento nenhum pra falar.
30 anos, mas permanece no universo típico pós-adolescente.
- Claro! Minha idade mental é de 13 anos! Eu não faço música pensando em quem vai me ouvir. Pode ser um moleque de 15 ou um cara de 45 anos de idade. Eu faço música para expressar o que eu sinto e penso. Um paradigma que existe e é difícil de ser quebrado é o seguinte: O rock é tipicamente uma música jovem. O fato de se convencionar que o rock é uma música de adolescente acaba afastando um monte de adulto. Se alguém diz “Você ouve Pitty? Música de criança né?”. A pessoa já pensa que pode não gostar. Adulto tem que gostar de Burt Bacharach ou qualquer coisa cult.
- Carreira internacional.
- Já tocamos duas vezes em Portugal, fizemos dois shows no Japão e agora estamos indo para Buenos Aires fazer dois shows. Nunca fizemos projeções internacionais. Sempre fizemos a coisa passo a passo. Se rolar a oportunidade de lançar o disco por algum selo em outro país, legal.
Publicado na jornal International Magazine (capa) edição 138, novembro de 2007.